contador de visitas

História 7°ano - Ensino Fundamental

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Viagens Templárias

Estimado leitor, inicia-se hoje, este espaço, inteiramente dedicado às viagens pelos locais intimamente ligados aos Templários. Hoje trataremos de fazer uma breve introdução à temática em questão.
O objetivo, destas crônicas de viagem, será de proporcionar aos leitores, que por falta de disponibilidade, temporal ou outra, estejam impossibilitados de viajar com a freqüência desejada que possam tomar contacto com as belezas arquitetônicas e monumentais legadas pela Ordem do Templo ao futuro – as quais, nós, habitantes do presente, temos a felicidade de poder observar.
Não levantando demasiado o véu sobre o que há de vir, digamos que os locais visitados e fotografados serão cerca de uma dezena, com respectivas descrições históricas e logísticas. Infelizmente, após anos de aturado estudo, temos a lamentar que os antigos castelos dos Templários são aqueles que, no momento, se apresentam em piores condições, exceto os poucos que teremos oportunidade de retratar de forma mais detalhada. Como terão oportunidade de perceber, pelo presente artigo, existiram imensos locais em Portugal onde a Ordem do Templo esteve presente, de maneira significativa, mas, porém, os vestígios ora são escassos ou nulos.
Do número inicial, foram retirados alguns dos Castelos pertencentes à Ordem do Templo (e à sua sucessora, em Portugal, Ordem de Cristo) pela simples razão de, ou não existirem quaisquer vestígio, ou de o que resta ser de tal forma diminuto que não justificaria uma
exposição.
No entanto, não gostaríamos de deixar de fazer referência, textual, de alguns locais que, ainda assim, fazem parte da história templária.


Castelo Tomar
Em Quinta da Cardiga, a poucos quilômetros da cidade de Tomar, em Portugal, encontrava-se um pequeno reduto templário. Em 1169, o primeiro rei português, D. Afonso Henriques doou-a aos Templários, para que estes ali erigissem um castelo e, segundo consta, assim o fizeram. Esta comenda não terá nunca participado de qualquer disputa territorial, pelo que foi diminuindo o seu interesse estratégico e, apesar de ter passado para as mãos da Ordem de Cristo, não subsistem, hoje em dia, quaisquer registos físicos da sua existência.
Na Vila de Touro, no concelho do Sabugal (distrito da Guarda), resiste ainda um perímetro amuralhado, com uma porta única (Porta de S. Gens). Segundo se sabe, não terá sido totalmente construído, apesar de D. Afonso II ter doado a Vila, em 1218. A verdade é que se tratava de um ponto estratégico, ao nível de defesa em relação ao invasor espanhol, e talvez por isso o monarca a tenha doado à Ordem militar-religiosa que lhe daria mais garantias. Em 1319, foi transferida, naturalmente, para a Ordem de Cristo, sendo que, em 1510, houve uma renovação do respectivo foral. Não justifica uma visita, até porque, apenas dezesseis anos após a renovação do foral, já este espaço estava em ruínas. Idanha-a-Nova, perto de Castelo Branco, um importante bastião templário, foi fundada, em 1187, por D. Gualdim Pais, Mestre dos Templários em Portugal. Este, hábil homem, mandou construir um castelo na povoação, algo que fez, em 1206, o monarca D. Sancho I doá-la aos Templários.
Sobre Ródão, podemos afirmar que, hoje em dia, que podemos avistar vestígios de um pequeno castelo, no topo de uma íngreme escarpa. Crê-se que tenha pertencido aos Templários, mas não há uma confirmação notória, apesar de alguns autores, tal como Paulo Loução, em “Os Templários na formação de Portugal”, o colocarem como pertencente da Ordem.
Mais a sul, encontramos, pelo menos, dois outros vestígios que merecem referência. Apesar de alguns autores aventarem outras possibilidades, como Évora, Pinheiro, Montalvão ou Raposeira, consideraremos apenas aqueles onde se encontra confirmada factualmente a presença templária. Desses locais, Alpalhão e Olivença, são dois sítios onde os vestígios físicos, atualmente, não são justificativos de uma visita. Em Alpalhão, por exemplo, não há vestígio de castelo ou muralha, apesar das hipóteses de desenho aventadas por Duarte Darmas. Sabemos ter sido um dos primeiros locais a ser doado aos Templários e que em 1300 D. Dinis terá exigido a construção de um castelo. Sobre Olivença, uma velha questão mal resolvida, pouco há a dizer sobre o espaço físico do importantíssimo castelo. Sabe-se, no entanto, que foram os Templários que conquistaram, aos mouros, a vila de Olivença em 1228.
Em Mogadouro, por terras de Trás-os-Montes, na chamada “Terra Fria”, encontramos um dos locais onde a Ordem esteve bem instalada, sobretudo a pensar nos ataques vindos da vizinha Espanha. Este castelo, construído no século XII, foi concedido em 1297 pelo monarca português à ordem militar e religiosa, tendo passado para as mãos da sua sucedânea Ordem de Cristo em 1319. Tivemos a oportunidade de passar algum tempo junto do que resta da estrutura – alguma muralha, uma torre quadrangular (de aplicação incerta, talvez de menagem) e a Torre do Relógio. Foi, durante a sua época mais gloriosa, uma vila pujante, para, com o passar do tempo, ir-se degradando. A presença das seteiras é um exemplo arquitetônico que conota com os Templários, sobretudo. É considerado Monumento Nacional desde 1946, algo que denota a sua importância histórica.
Da época da reconquista (séc. XI) foi reconstruído em 1176 pelo Mestre Templário D. Gualdim Pais, e classificado como Monumento Nacional desde 1943, localizando no ponto mais alto e central da freguesia, ocupando um espaço de pouco mais de quinhentos hectares.
Fazendo parte do conjunto de fortalezas do Côa, o Castelo de Longroiva resiste ainda com a sua torre cimeira, com vinte metros de altura e, naturalmente, alguns resquícios das muralhas. A vila de Longroiva é pequena, cada vez menos povoada, com os custos da interioridade, e encontra-se com acessos pouco mais que terríveis. A Langóbriga dos Lusitanos, tornou-se a Longroiva dos Templários, por ordem de D. Afonso Henriques, algo que permitiu que tenha sido um bastião defensivo de elevada monta.
Na cidade de Castelo Branco, resiste um castelo apenas na memória dos livros de História. Duas pequenas torres, ou restos das mesmas, e um pano amuralhado são vestígios demasiado simples para a importância que a cidade atualmente possui, perdida por terras da Beira Interior. A confusão típica das cidades portuguesas de média dimensão é algo que se encontra ao subir ao ponto onde os resquícios monumentais da fortaleza dos Templários, a estes doada em 1214 por D. Afonso II. Nos seus tempos áureos, o Castelo chegou a possuir dez entradas, que facilitariam a entrada e saída da grande massa populacional que por ali pululava. Hoje, apenas memórias do tempo em o mestre templário D. Pedro Alvito (ou Alvitez), lhe concedeu foral no século XIII.
A pequena aldeia de Castelo Novo, foi bem acarinhada por D. Dinis que ali construiu uma torre de atalaia (um castelinho). Hoje em dia é um exemplo de povoação medieval, com grande limpeza e aproveitamento da natureza que a rodeia, ou não fizesse parte da Serra da Gardunha. O Castelo, ou o que resta dele, encontra-se isolado numa encosta com cerca de seiscentos metros de altitude.
Conseguem ainda vislumbrar-se as típicas gárgulas (espécie de animais fabulosos ou monstros medievais, que surgem, religiosamente, como símbolo de forças, ou submetidos à vontade de um poder superior) que os Templários utilizavam nas suas fortificações, assim como uma torre de planta centralizada e uma torre de menagem praticamente destruída. Possivelmente, Castelo Novo justifica uma visita, visto que conjuga um determinado conjunto arquitetônico com o verde da paisagem e o sossego que a Serra da Gardunha proporciona.
Em termos puramente históricos, subsiste ainda alguma dúvida sobre o verdadeiro aparecimento desta fortaleza, pois nem todos acreditam que tenha sido entregue a D. Gualdim Pais, visto que há historiadores que crêem piamente na hipótese D. Pedro Guterri.
O Castelo de Nisa, bem no Alentejo, terra árida e de planície, pode afirmar-se que, pura e simplesmente, não existe. O que resiste são apenas duas portas, a principal da vila e de Montalvão. Muito pouco para algo que, na Idade Média, detinha uma importância relevante. A sua construção, visando a proteção contra as investidas mouriscas,
foi dirigida pelo Mestre dos Templários, em Portugal, D. Frei Lourenço Martins, por volta de 1290, e exigida por D. Dinis, um dos mais profícuos monarcas portugueses construtores de fortalezas, apoiando-se nos conhecimentos dos Templários, tal como D. Afonso
Henriques fizera uns séculos antes, aproveitando-se dos conhecimentos técnicos de D. Gualdim Pais, seu grande amigo. A vila, mais tarde, passou para as mãos da Ordem de Aviz.
Em Penamacor, apesar da beleza natural da vila (na zona da Covilhã, local de grandes altitudes, ou não fosse o espaço geográfico da imponente Serra da Estrela), os vestígios monumentais da época dos Templários restringem-se a um espaço com alguma muralha e a reconstrução de uma antiga Torre de Menagem. Desilusão tremenda para os visitantes… Mas, seja como for, a verdade é que os Templários também não lhe prestaram grande atenção, visto que em 1187, o rei, em uma das suas visitas, encontrou o local abandonado, apesar da sua doação ao Mestre da Ordem do Templo. Forçando-o a fazer obras, é com satisfação que sabemos que o foral foi renovado, pelo cumprir das obrigações dos Templários. Apesar de esta vila nunca ter, ao que se julga, participado em conflitos armados, o seu estado de degradação, sobretudo pelo desleixo a que foi votada, tomou conta dos monumentos templários.
Terminamos, por hoje, em Penha Garcia, esta visita por alguns dos locais templários em Portugal que, por uma razão ou outra, hoje em dia não possuem qualquer exemplo físico de relevo para visita.
Geograficamente falando, esta freguesia encontra-se na costa meridional da serra homónima. Não temos a certeza de ter sido pertença dos Templários, se bem que se comente, com alguma insistência essa probabilidade. A verdade é que, tendo ou não sido uma realidade, o desinteresse, já demonstrado com Penamacor, fez-se valer aqui também, não tendo o monarca dado segunda oportunidade e, em pouco tempo, mais concretamente em 1220, a Ordem de Santiago recebeu-a da parte do rei. Por incrível que pareça, o mesmo D. Afonso III, 36 anos depois, retira-a das posses de Santiago. D. Dinis, grande amigo da Ordem do Templo, ordenou, finalmente, a construção do castelo e doou-a em 1300, novamente, a esta instituição religiosa e militar. Dezenove anos depois, por vicissitudes conhecidas, a Ordem de Cristo sucedeu-lhe enquanto possuindo esta zona geográfica. Em termos arquitectônicos, ressalve-se o pormenor, curioso, dos 117 degraus necessários para se chegar ao local onde outrora terá existido bonita fortaleza, subsistindo algumas paredes e muralhas. Um local de grande beleza natural, não ajudado, atualmente, pela arquitetura militar.
Com este pequeno intróito está servido o aperitivo para os pratos principais que, nos próximos números da revista, surgirão, dando a conhecer a todos onde estiveram e o que nos legaram, os Cavaleiros Templários.

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O feudalismo

Introdução

O Feudalismo pode ser visto enquanto um sistema de produção a partir do século IX, definido após um longo processo de formação, reunindo principalmente elementos de origem germânica e de origem romana. Essa estrutura foi marcante na Europa Ocidental e responsável pela consolidação de conceitos e valores que se perpetuarão. Muitos vêem nesse momento o desenvolvimento da "Europa Cristã".

A economia

A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma secundária.



Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir riquezas ( como na maioria das sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental da sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram denominados servos.
O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes "fazendas" ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade rural. O território do feudo era dividido normalmente em três partes: O Domínio, terra comum e manso servil
O Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal e trabalhada pelo servo. A produção deste território destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, nessa porção de terra ou mesmo no castelo, por um período de 3 dias, sendo essa obrigação denominada corvéia.
Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas tanto pelo senhor feudal como pelos servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira para as construções, e onde pastam os animais.
Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada servo tem direito a um lote. Em vários feudos o lote que cabe a um servo não é contínuo, ou seja, a terra de vários servos são subdivididas e umas intercaladas nas outras. De toda a produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, caracterizando uma obrigação denominada talha.
Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhados livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Essa relação, definiu-se lentamente desde a crise do Império Romano com a formação do colonato.
Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, existiam outras obrigações que eram responsáveis por retirar dos servo praticamente tudo o que produzia.
Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que baseava-se em trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo portanto um grupo de intermediários (comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de produto por produto.
Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.
Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. " A pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez" (1) Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudais em possuir uma estrutura que pudesse prove-lo nessas situações

A sociedade



A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem.
O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não?
O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).
A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: "na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros" Para o bispo, o conjunto de servos é "uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento". Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como vontade divina.



Na camada superior, "os guerreiros" pode-se perceber uma diferença entre nobres e cavaleiros. Os primeiros descendem das principais famílias do período carolíngeo, enquanto que os demais se tornaram proprietários rurais a partir da concessão de extensões de terras oferecidas pelos nobres. Essa relação era bastante comum, fortalecia os laços entre os membros da elite, mesmo por que os cavaleiros se tornavam vassalos e ao mesmo tempo procuravam imitar o comportamento da nobreza tradicional, adotando sua moral e seus valores. Com o passar do tempo a diferenciação entre nobres e cavaleiros foi desaparecendo; preservou-se no entanto a relação de suserania e vassalagem.
A relação de suserania e vassalagem é bastante complexa. Sua origem remonta ao Reino Franco, principalmente durante o reinado de Carlos Magno e baseia-se na concessão do feudo (beneficium).
Surgem os dois primeiros problemas: Quem esta envolvido nesta relação? e, o que é feudo?
Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das partes, que são sempre dois senhores feudais; ou seja, é uma relação social que envolve membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo originariamente significava "benefício", algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua utilização como sinônimo da "propriedade senhorial". Suserano é o senhor que concede o benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta relação, na verdade bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar os privilégios da elite e materializava-se a partir de três atos: a homenagem , a investidura e o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um grande proprietário rural e que pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo, é um homem que necessita de terras e camponeses.

O poder



No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à " vontade de Deus". Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro.
É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo, como suserano-mor, no entanto sem poder efetivo devido a própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.


Leia sobre o feudalismo

(1) Franco Jr, Hilário, O feudalismo, Ed. Brasiliense, col. Tudo é História

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Heresia ou Loucura

A Inquisição foi um poderoso instrumento que a Igreja Católica desenvolveu para punir os ditos hereges espalhados em diferentes partes do mundo. O Brasil na época colonial apresentava um cenário de muita complexidade nas práticas religiosas que envolviam os “cristãos – novos” e a “verdadeira” Igreja. A prática “secreta” do judaísmo era algo corriqueiro nos “recantos” do “Novo Mundo”. A irreverência prestada aos santos e a rotina religiosa dos “verdadeiros cristãos” criou um enorme desgaste e certa falta de “controle da fé” do “verdadeiro cristianismo”. Para retomar a expansão do caminho da “salvação” a Santa Igreja viu-se na necessidade de convocar a instalação de um Tribunal do Santo Ofício de Lisboa no Brasil. No entanto, foi nesta dimensão que a Inquisição se deparou com a incumbência de identificar o que verdadeiramente resultava dos comportamentos desfavoráveis a Igreja: heresia ou loucura.



As visitações ocorridas no final do século XVI nos revelam uma situação perplexa da Inquisição no sentido de distinguir os acusados por heresia e aqueles que se apresentavam como loucos. Numa ordem natural do processo inquisitorial, os primeiros eram julgados enquanto os portadores de problemas mentais, enviados para “casa de doidos”. Um dos casos deste período aconteceu com André de Freitas Lessa, sapateiro, residente no Recife – acusado de praticar sodomia com jovens em troca de sapatos. Na maioria das vezes, somente a parte dos jovens era cumprida.



O visitador questionou André sobre seus atos, e nesta oportunidade, o sapateiro mencionou que sofria de “enfermidade no miolo”. Dizia ainda, que seus desejos sodomíticos sofriam alterações de acordo com as alternâncias da lua, conforme relato.

“ ... na lua nova se sentia alienado, de modo que algumas vezes em que perpetrara sodomias, estava perturbado do juízo com acidente da lua”.

Em 1595 Lessa foi condenado a 10 anos de galés (uma pena mais “branda” que também era atribuída aos escravos). Sua versão “lunática” não foi aceita pelo visitador que manteve sua sentença. Entretanto, André Sodré, morador na Bahia julgado em 1593 por duvidar do Juízo Final, também apresentou um “diagnostico” similar ao identificar-se como alguém enfermo da cabeça, aluado.

A Inquisição reconhecia a loucura como uma doença que afetava diretamente os “miolos”, os inquisidores não afirmavam que se tratava exclusivamente de heresia. Este parecer não diferia muito do conceito popular com respeito aos doidos, nem tão pouco dos médicos que nesta época praticamente desconheciam doenças mentais.

Os problemas apontados nos deixam pelo menos a certeza de que não configuram nenhuma relação com pactos diabólicos ou casos de possessão. Os primeiros eram vistos pela inquisição como problemas de fé, heresia e, por esta razão, deveriam ser tratados judicialmente em sentenças que iniciavam com punições corporais podendo chegar ao limite da morte na fogueira. Enquanto que os possuídos recebiam o “remédio espiritual” – o exorcismo. Diante deste cenário, a Inquisição demonstrou certa falta de saber que atitude tomar frente aos aluados. Uma vez acreditada a existência de problemas mentais nos loucos, a Inquisição então, mandava-os para casa.


As Alterações nos Regimentos Inquisitoriais do Século XVII

A Inquisição de certa forma, desconsiderava a loucura – os registros dos inquisidores não descreviam detalhes de informações dos “despropósitos”. Em suma, apresentava-se uma constatação superficial de depoimentos e comportamentos alegando que estes não acompanhavam de nenhum sentido, assumindo que por vezes agiam como lunáticos, encerrando assim, os escritos.





Ainda nesta época os regimentos inquisitoriais sofreram importantes alterações. Podemos citar ao menos dois exemplos: em 1613 foi estabelecido que no caso da presença de um preso “contaminado” pela loucura – tal diagnóstico deveria ser averiguado quanto a sua veracidade e, em caso afirmativo, ele seria livrado das penas corporais. Já em 1640, o procedimento foi preservado em sua essência, porém, com um adendo, agora o médico do cárcere deveria acompanhar de perto o comportamento e as reações do acusado. Tudo isto com o objetivo de obter a cura dos loucos, aplicando-lhes os medicamentos necessários e, em último caso, transferindo-os para o Hospital de Todos os Santos, em Lisboa.



Evidente que nesta altura, nem a medicina e muito menos a Inquisição eram profundos conhecedores da natureza do problema. Por outro lado, o é interessante saber da existência – ainda no final do século XVI - de locais que foram destinados para doenças perigosas como a “cada dos doudos” e a “cada das doudas” localizadas no Hospital Real de Todos os Santos. São estes os locais para onde os lunáticos eram encaminhados, inclusive os casos advindos do Brasil. Este fato demonstra pelo menos o prenúncio de certa organização hospitalar para o tratamento daqueles que demonstrassem problemas mentais.

No Brasil Colônia muitos desacatavam os santos, a Virgem e o próprio Cristo – atitudes como estas são justificadas pela inconformidade da religião e pela falta de atendimento do Além em pedidos urgentes. Sacrilégios e blasfêmias eram comuns nesta época, inclusive em outras localidades.

A última visitação ao Brasil ocorrida em 1760, nos trás um caso muito interessante. Trata-se do soldado Francisco José Duarte que ao entrar na capela do forte, em Belém, arrancou uma imagem de cristo e começou a aplicar golpes com uma faca com a intenção de degolá-lo. Francisco foi preso e encaminhado para enxovia do Juízo Eclesiástico onde não fez outra coisa a não ser piorar sua situação praticando imoralidades terríveis frente ao padre que rezava de fronte a sua prisão. Em 1765 Duarte foi encaminhado para Inquisição de Lisboa – lá ele passou por inúmeras sessões com o inquisidor que procurava desvendar a existência ou não de distúrbios mentais com relação às atitudes de Francisco. Mais uma vez a Inquisição acabou desistindo de tentar decifrar o que realmente acontecia com o acusado e acabou transferindo-o para o Hospital Real em 1768 – dois anos depois Duarte faleceu e o caso foi arquivado pela Inquisição portuguesa.

Referência Bibliográfica

Revista de História, artigo: “Heréticos e Lunáticos”, VAINFAS, Ronaldo – Ed. Biblioteca Nacional – RJ, Ano 1 – Nº 2, agosto-2005.

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Entre véus e espadas

Na sociedade machista da Idade Média, rainhas subverteram a ordem ao acompanhar seus exércitos em grandes campanhas bélicas.

Por Luciana de Campos *

A imagem da rainha guerreira que discute em pé de igualdade com seu esposo e rei está exposta em um filme de 1968, estrelado por Katherine Hepburn e Peter O’ toole. Eles representam respectivamente Leonor d’Aquitânia , rainha da França e posteriormente da Inglaterra, e, ele, o rei Henrique II Plantageneta. Essa mesma produção, O leão no inverno, contou com uma refilmagem mais drmatizada em 2003, feita para a televisão e estrelada por Gleen Close e Patrick Stewart. O que nos chama a atenção logo nas primeiras cenas da nova versão é a imagem da rainha montada em um cavalo, portando equipamentos bélicos como uma pesada armadura usada em combate, numa época em que as mulheres geralmente permaneciam confinadas nos castelos, conventos ou campos.
Essa representação parece estranha para os tempos atuais, mais ela foi mais comum do que imaginamos.
As duas versões, a cinematográfica e a televisiva, mostram a vida da rainha Leonor d’Aquitânia, que nasceu e governou uma das regiões mais ricas e prósperas da França no século 12. essa mulher, que foi dada em casamento aos 15 anos ao jovem Luís (que timha 17 e, mais tarde, seria o rei da França Luís VII), desfiou seu esposo quando, no natal de 1150, decidiu tomar as armas e partir com o exército de cavaleiros franceses rumo a 2a. Cruzada. Junto às tropas, Leonor não deixou de lado nenhum dos confortos da corte. As pesadas carroças, que deveriam transportar apenas armas e víveres, tanto para os soldados como para os animais, transportavam também louças, artigos de toucador e tudo o que as rainhas e damas da corte julgavam necessário para lutar em Jerusalém contra os mouros.

Rei neurótico, rainha nervosa.

Em pleno século 12, as mulheres – principalmente as aristocratas – estavam deixando o conforto e a segurança dos castelos para se aventurarem na mais masculina das atividades medievais: a guerra. Segundo relatos da época, tanto as carroças carregando artigos femininos quanto a presença das mulheres na marcha militar causavam espanto e indignação. Segundo os padrões sociais de então, elas estavam condicionadas a parir, orar e trabalhar. Qualquer outra atividade que fugisse dessa tríade não era bem vista.
Mas, apesar da relutância de seu esposo Luís VII, Leonor partiu para a Terra Santa. Mesmo com todo o preparo e a benção do papa, a cruzada não obteve o sucesso pretendido e, no retorno para a França, o casal real fez uma pequena parada em Roma para anular o casamento. Assim ocorreu, em 21 de março de 1152, pelo sínodo de Beaugengy. O rei ascético e a rainha temperamental, cujo espírito guerreiro era insubmisso, não podiam mais permanecer juntos.
Passadas seis semanas do divórcio, Leonor casou-se com Henrique II Plantageneta, rei da Inglaterra. Ela se aproveitou do fato de ser mãe de oito filhos e os insurgiu contra o pai, numa revolta de 1173. Novamente, a rainha tomou as armas para assegurar a herança de seus filhos.
O caso da rainha Leonor – que ficou conhecida como uma das mulheres mais belas, inteligentes, ricas e poderosas da Idade Média – não foi isolado. Muitas outras rainhas não tiveram seus feitos de guerra popularizados como os da governante francesa. Entre elas podemos citar Isabel de Jerusalém, que foi rainha dessa cidade no século 13 e mãe de outras duas mulheres rainhas e também guerreiras: Sibila e Melisenda de Lusignan. A exemplo de Leonor, tomaram as armas e defenderam suas terras e posses contrariando assim os modelos medievais de comportamento feminino.

Obediência e servidão

A mulher medieval não possuía garantias legais nem pelo direito civil, nem pelo direito canônico, que as entendiam como um sujeito incapaz de tomar qualquer decisão no campo político ou social. A mulher devia dedicar-se aos afazeres da casa, à criação dos filhos e à oração. As penalidades para as mulheres que cometessem algum crime eram diferentes das aplicadas aos homens. A quem alugasse casa à mulheres solteiras fora dos bairros autorizados caberia a pena de exílio. O homem que dormisse com uma mulher virgem ou com uma viúva honesta com menos de 25 anos, e não casasse com ela, era condenado a “pagar-lhe casamento”. Caso não tivesse bens para tanto, seria açoitado pela vila onde residia. O adultério era punido, se não houvesse perdão do marido, com execução capital dos dois culpados. No entanto, se o adúltero fosse de maior condição social do que o marido, a sentença não seria executada sem a confirmação do rei.
Devendo obediência, servidão e reverência ao homem, as mulheres estavam sempre confinadas em casa onde, em meio as tarefas de fiar, tecer e bordar, entretinham-se em ouvir as narrativas que as transportavam para lugares distantes – e sempre as ensinavam que não era permitido voltarem-se contra a servidão. Inferiorizadas na esfera familiar e também na religiosa, as mulheres encontravam na literatura um meio de extravasar seus sentimentos de rebeldia contra a tirania imposta pelos homens. Somente nas linhas cantadas pelos trovadores as mulheres estavam representadas e, sutilmente, conseguiam expor seus sentimentos.
As mulheres guerreiras e as personagens míticas também foram protagonistas de muitas narrativas e essas, mesmo sendo descritas por homens, conservavam traços da sua força contra a vassalagem. Aquelas imagens associadas ao mal e aos malefícios ocasionados pela mulher e também pelo convívio com elas, impregnaram boa parte de literatura medieval. Representando a mulher em constante situação de submissão, a literatura mostrava que era preciso exercer sobre ela um controle rígido e, dessa maneira, representá-la como a única culpada pelos males do mundo.
A distinção entre homens e mulheres na Idade Média pode ser definida assim: os homens sempre estiveram associados à força, virilidade, potência e sabedoria, enquanto as mulheres eram frágeis e estúpidas. Tudo o que se referia ao universo feminino era algo descartável, necessário somente para a perpetuação da espécie. E foi esse o pensamento responsável por permitir que a mulher não tivesse obtido nenhum espaço em praticamente toda a Idade Média, com a construção de uma imagem sempre negativa.
Algumas rainhas, mesmo ocupando alta posição social e dedicando-se aos afazeres exclusivamente femininos, conseguiram interferir em muitas questões de Estado que eram pertinentes aos homens. Aquela influência, apesar de ter causado transtornos e constrangimentos em uma sociedade machista, indicou que o sexo feminino também detinha grande poder de decisão e que poderia fazer valer a sua vontade, mesmo nos momentos de maior adversidade. Mulheres guerreiras, rainhas, damas ou simplesmente anônimas ceifeiras de trigo, todas elas contribuíram para a realização das Cruzadas e de muitas outras batalhas.
Apesar de todas as restrições sociais, políticas e religiosas da Idade Média, conseguiram assegurar seu espaço na história mostrando a importância nem dos mais complicados embates sociais do ocidente: a guerra.

Luciana de Campos é mestre em História

Texto publicado originalmente na Revista Desvendando a História, ano 2, número 9, reproduzido pelo HISTORIANET com autorização da Escala Educacional.

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Bruxas, santas e inquisidores

Jan Duarte

Quando nos debruçamos sobre a relação entre acusadas de feitiçaria1 e os inquisidores que conduziram seus processos, muitas vezes nos deparamos com a seguinte pergunta: de que forma os julgamentos de pessoas evidentemente inocentes dos crimes a elas atribuídos puderam produzir relatos e confissões, que não apenas lhes imputavam a culpa, mas igualmente confirmavam o imaginário (teológico e popular) a respeito da bruxaria?

Um dos argumentos constantemente utilizados para responder essa pergunta vem sendo o da tortura. Segundo esse argumento, uma vez que uma grande parte das confissões foi obtida sob tortura – e com requintes de crueldade – as acusadas confessavam qualquer coisa que as livrasse de novos suplícios, sendo que a execução – quase inevitável após a confissão – seria considerada por elas como um alívio para os seus sofrimentos.

Esse componente não pode ser desprezado, em especial em julgamentos ocorridos na Alemanha, França, Itália e Espanha, onde o uso da tortura era disseminado, mas dois contra-argumentos precisam ser levados em consideração: em processos ingleses e norte-americanos (como no caso de Salem, Massachussets, em 1692), nos quais não se recorria ostensivamente à tortura para a obtenção de confissões, surge o mesmo tipo de depoimento das acusadas, que não apenas confirma a acusação, mas igualmente se enquadra no discurso teológico dos inquisidores. Além disso, existe uma característica comum nos processos de bruxaria: confissões extraídas após uma sessão de tortura eram, posteriormente, negadas pelas acusadas, que obstinavam-se em dizer que falaram tais coisas pelo temor de novos suplícios.

Entre o “confessar sob tortura”, pura e simplesmente, e a assimilação de uma culpa dentro de moldes precisos, ajustados ao dizer dos teólogos, existia portanto um lapso temporal no qual afirmações e negativas se sucediam. Depreende-se dessa maneira a existência de um processo pelo qual as negativas gradualmente eram anuladas.

Outro argumento normalmente utilizado – e que não difere grandemente do anterior – é que as acusadas de feitiçaria, em suas confissões, apenas repetiam o discurso teológico corrente, uma vez que a confissão espontânea, algumas vezes, evitava a pena de morte. Ou seja: a bruxa confessava aquilo que o inquisidor queria ouvir na esperança de, com isso, poupar a própria vida. Esse argumento, embora me pareça mais próximo daquilo que se pode efetivamente apurar, falha por estabelecer uma relação causal demasiado simplista.

Sem dúvida, muitas acusadas confessavam por saber que a confissão poderia evitar a pena capital. Essas confissões, indubitavelmente, acabavam por enquadrar-se, em um determinado momento, no discurso teológico. Mas existe nos processos, quase sem exceção, um intervalo de tempo entre as primeiras confissões (mesmo naquelas obtidas sob tortura) e aquelas que, finalmente, registravam coerência com aquilo que os compêndios contemporâneos sobre bruxaria pontificavam. Era nesse intervalo que a mudança do discurso se processava e que a suposta bruxa deixava de falar a “sua língua”, passando a falar a “língua do inquisidor”.

Para deixar mais claro essa mudança de discurso, consideremos o seguinte: a grande maioria dos processos de bruxaria tem uma dinâmica característica. Suas diferenças, por mais profundas que sejam sob o aspecto regional, não tornam impossível traçar linhas gerais que tipifiquem o “processo de bruxaria” por excelência. Pude vislumbrar essas características persistentes ao examinar os julgamentos de Salem, Massachussets, em 1692, e Carlo Ginzburg nos dá um exemplo modelar ao referir-se ao julgamento de Chiara Signorini, em Modena, em princípios do século XVI2.




A acusação de bruxaria surgia, sempre, a partir de um suposto maleficia: este podia ser a doença repentina de uma pessoa ou de animais domésticos ou, em casos menos comuns, problemas causados à plantação ou ainda ao próprio clima. Denúncias relativas à “provas espectrais”3 ou à participação da acusada em sabás, etc., costumavam ser sempre posteriores e em corroboração às denúncias iniciais: em Salem, as denúncias surgiram a partir da doença inexplicável das meninas “aflitas”, iniciando-se pela família Parris. Em Modena, a partir da doença de Margherita Pazzani. Em Boston, em 1688, são as filhas de John Goodwin que adoecem e levam a julgamento Mary Glover.

A acusada era tipicamente alguém do convívio daquele que foi afligido ou prejudicado. De uma forma geral, um subordinado direto, alguém em posição social inferior ou, ainda, alguém que, mesmo em posição de destaque na comunidade, tinha incorrido na ira ou em situação de disputa com o acusador. Chiara Signorini era ex-colona de Margherita Pazzani. Tituba, a grande catalisadora dos eventos de Salem, era escrava dos Parris. A própria família Parris, embora influente, tinha disputas importantes com outras famílias da região. Quando as acusações chegavam ao ponto de generalizar-se, ocasionando um verdadeiro episódio de caça às bruxas, os alvos preferenciais eram pessoas que não se enquadravam ao quadro social vigente: beberrões, solteirões ou viúvas amargas e maledicentes, curandeiras e blasfemos. Foi o caso, em Salem, de Sarah Good, mendiga semi-louca que se transformou em alvo preferencial por seu comportamento anti-social. Foi também o caso de inúmeros judeus e cristãos-novos – desprezando-se, obviamente causas e interesses escusos diversos – que foram entregues pelos seus vizinhos à Inquisição.

A acusação, obviamente, era sempre a mesma: tais pessoas seriam as causadoras dos infortúnios, graças às suas artes mágicas. E é justamente aqui que começa a se estabelecer a diferença: a acusação inicial baseia-se na crença popular de que determinadas pessoas, por serem como são, ou por terem aprendido de “outras como elas” determinadas artes, podem causar o maleficia. Já a acusação formal sempre atribui essa capacidade ao pacto demoníaco e não a um poder pessoal inato ou aprendido de forma tradicional. A distância entre o universo mental do acusador e do acusado e aquele universo mental específico dos inquisidores, se evidencia justamente nessa fase inicial. A partir daí, inicia-se um processo em que os inquisidores, à revelia de acusadores e acusados, buscarão de todas as formas enquadrar estes últimos num esquema de pensamento pré-estabelecido – marcado pela figura do pacto, do sabá, da anti-religião – que é estranho, via de regra, tanto aos acusados quanto a seus acusadores.

Ginzburg afirma que a resignificação das confissões das acusadas de feitiçaria por parte do inquisidor, fazendo com que elas se adequassem ao discurso teológico e, dessa forma, se enquadrassem às exigências legais que permitiriam a condenação, somente era possível devido à peculiaridade das crenças das acusadas4. Quando Chiara Signorini admitiu ter causado o maleficia contra Margherita Pazzani, ela inicialmente alegou tê-lo feito por intermédio de Nossa Senhora, para depois, sob influência do inquisidor, dizer que fora o diabo o seu auxiliar. Para Ginzburg, Nossa Senhora e o diabo são simplesmente representações distintas de uma mesma divindade popular: uma divindade que vem em auxílio dos excluídos, para vingá-los ou propiciá-los, e justamente por isso é possível com alguma facilidade transformar uma imagem (N. Senhora) na outra (o diabo).




Creio estar sobejamente demonstrada essa particularidade da religiosidade popular, em especial no Medievo e princípios da Idade Moderna, que mistura figuras “sagradas” a figuras “demoníacas” com propósitos práticos. Isto não apenas na obra do próprio Ginzburg, como em diversos outros estudos sobre bruxaria. Laura de Mello e Souza, por exemplo, ao discorrer sobre as visitações do Santo Ofício ao Brasil, nos dá diversos exemplos de orações e conjuros onde os nomes de Cristo, da Virgem Maria e de santos misturam-se, numa mesma frase, aos de Satanás, Lúcifer e outras potestades infernais5. Porém, julgo que essa característica dúbia e decididamente pragmática da religiosidade popular (especialmente camponesa), não basta para explicar toda e qualquer apropriação do discurso da feiticeira por parte do inquisidor e seu ajustamento ao discurso teológico.

Existem inúmeros registros de curas miraculosas ou sobrenaturais, ou mesmo de vinganças sobrenaturais – aparições da Virgem, “conversas” com santos, visões e vozes espectrais que se fazem ouvir, êxtase e prostração – que não resultaram em acusações de feitiçaria. Muito pelo contrário, foram exatamente esses elementos e alegações, feitas publicamente e com a corroboração de diversas testemunhas, que levaram à canonização de inúmeros santos! Qual era, então, a diferença entre a santa e a bruxa? Por que o discurso, igualmente baseado nas crendices e na religiosidade popular da primeira, não era demonizado pela Igreja, ao passo que o da segunda era? Ou melhor: por que o discurso da santa, ao ser resignificado – pois ele obviamente também o era – transformava-se na prova do seu contato direto com a graça divina, ao passo que o da bruxa atestava seu contato direto com o demônio?

Arrisco aqui uma hipótese que, embora já tenha sido aventada – mesmo que em outros moldes – por autores como Michelet e Palou (para citar apenas dois)6, merece maior estudo e atenção: a diferença entre a bruxa e a santa residia na condição prévia de exclusão social da primeira.

Em princípio, tanto a “santa” quanto a “bruxa” eram, de alguma forma, acusadas: uma do milagre e a outra do maleficia. Ambas, cada qual à sua maneira, confessavam diante do inquisidor ou de seus iguais aquilo que supunham ter vivenciado, visto ou praticado, usando o seu próprio conjunto de símbolos, conjunto este inserido plenamente na cultura daquela que confessava. Ou seja: descreviam, perante seus pares ou perante o inquisidor, a experiência pela qual supunham ter passado, usando a sua própria linguagem, reflexo do extrato social na qual estavam inseridas. O material que se apresentava frente ao inquisidor, para ser avaliado e traduzido em termos da cultura teológica, era em ambos os casos o acontecimento de fenômenos “extraordinários” ou o contato com seres “sobrenaturais”, descrito em termos da cultura comum, ou “popular”. Essa tradução, no entanto, ao ser feita não o era de forma inocente: ela carregava o peso da condição social da visionária, que determinava seu encaminhamento à beatitude ou ao cadafalso.

Como exemplo, vejamos o caso de Vincenza Pasini, esposa de mestre Francesco de Giovanni de Montemezzo, idosos proprietários de terras no século XV, na cidade de Vicenza, norte da Itália, não muito distante da Modena de Chiara Signorini, citada por Ginzburg. Segundo registros da época, a Sra. Vincenza

levava uma vida simples e honesta, devotada ao Senhor e a Sua Mãe Santíssima, pela qual alimentava uma devoção excepcional: seus dias eram ritmados por muita oração e boas obras; sua freqüência à igreja e às celebrações litúrgicas, e em especial sua caridade para com todos, faziam dela uma verdadeira cristã.7

 Em duas ocasiões, 1426 e 1428, com a cidade assolada há anos pela peste, Dona Vicenza teve visões da Virgem Maria, que ameaçava com a continuidade da doença a não ser que se providenciasse a construção de uma igreja em sua homenagem. No mesmo ano de 1428, a construção foi iniciada e, até hoje, o Santuário de Nossa Senhora do Monte Berico recebe, todo primeiro domingo do mês, mais de 30 mil peregrinos.

Quais as diferenças existentes entre as visões da Virgem de Vincenza Pasini, que levaram à construção de uma monumental basílica, e aquelas de Chiara Signorini, que a enviaram para a prisão perpétua? Ambas se encaixam no protótipo da “divindade popular”, que ameaça, pune e agracia, conforme a vontade, necessidade ou súplica de sua interlocutora.

No entanto, longe de serem reconhecidamente uma devota e dedicada esposa de um velho proprietário de terras, a exemplo de Vicenza e Mestre Francesco, Chiara e seu marido são “dois camponeses malvistos, temidos pelos patrões, constantemente despedidos, que se vingam das injustiças de que são vítimas”8. Sendo ambas levadas frente a Inquisição, suas condições sociais e a imagem que delas se fazia as precediam.

No caso da pia Vicenza, pouco importava que sua aparição impusesse a construção de uma basílica em sua homenagem, com todo o sofrimento e privações que isso pudesse acarretar, sob a pena da desgraça de toda a comunidade. Aquela que impunha que se prostrassem aos seus pés e a adorassem havia de ser a Virgem Maria. Para a malvista Chiara, entretanto, o ser que exigia a sua adoração por algo muito pequeno (doença e desconforto para a patroa injusta), não poderia ser a Virgem, mas única e exclusivamente o diabo.




Não era, portanto, a qualidade ou a abrangência do fato sobrenatural que o levava a ser reinterpretado pelos inquisidores de acordo com os manuais demonológicos da época. Era, sim, a necessidade dessa reinterpretação, conforme os fatores sociais preexistentes ao fato. Qualquer bruxa que fosse levada diante os tribunais eclesiásticos já era, irremediavelmente, bruxa. Da mesma forma, qualquer santa que fosse obrigada a prestar depoimento diante desses tribunais já era, de antemão, santa. O processo inquisitorial apenas sancionava aquilo que a condição social da acusada já havia definido.

Vistos por esse ângulo, os métodos inquisitoriais – ameaças, privação, tortura – não podem ser considerados (como foram alhures) formas de adequar a um discurso teológico corrente as palavras de “inocentes” pagãos, curandeiros, supersticiosos ou belas mulheres que provocavam ciúmes. Seriam, sim, a resposta teológica a um discurso popular, que precisava condenar aqueles que já estavam previamente condenados pelos seus pares.

Notas:

1 Utilizo aqui as expressões “bruxas”, “feiticeiras” e “acusadas de feitiçaria”, no feminino, levando em consideração que uma parte significativa da documentação disponível sobre os processos inquisitoriais refere-se a mulheres, além do fato que o estereótipo da “bruxa” está muito mais consolidado do que o do “bruxo”. As observações constantes no texto, no entanto, aplicam-se igualmente aos muitos homens acusados, julgados e condenados pela Inquisição.

2 GINZBURG, Carlo. Feitiçaria e piedade popular in Mitos, Emblemas, Sinais. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989.

3 Prova espectral: aparição do espectro da acusada à vítima, ou às vítimas, geralmente em sonho. As primeiras críticas à aceitação desse tipo de “prova” nos processos surgem relacionadas aos julgamentos de Salem’s Village.

4 GINZBURG, Carlo. Opus cit., p. 41.

5 SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

6 Ver, por exemplo, MICHELET, Jules. A Feiticeira. São Paulo: Aquariana, 2003, e PALOU, Jean. A Feitiçaria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

7 Cf. Baglioni, Pina. Um farol de salvação e de refúgio nas tempestades da vida in 30 Dias, nº 11, ano XXIII. Roma: 30 Giorni, novembro de 2005.

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As origens do Islamismo

Por Mônica Muniz

No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nômade, divididos em tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla e estável. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de sociedades mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que ganhava o interior da península através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos essenciais. Os sassânidas (persas) tinham o monopólio comercial do oceano Índico e queriam impedir a concorrência de Bizâncio que, pelo Egito, tentava infiltrar-se na região.


Península Arábica no século VII


Em decorrência, Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem entre o Iêmen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam confinados, como podemos imaginar, mas nas fronteiras das duas grandes civilizações existentes então. Eram politeístas e a religião absorvia essa realidade, posto que sua fé refletia um pouco de todas as crenças populares do Oriente.


Rotas comerciais de grande uso entre os séculos VII e XV


muçulmana. Em Medina, já não é só a pregação de uma fé. Mohammad organiza uma comunidade dentro dos princípios islâmicos, cuja lei não está dissociada da fé, posto que sua origem é divina. Ao morrer, em 632, ele tinha deixado uma religião consciente de sua especificidade, esboçara um regime social externo e superior à organização social e unificara a Arábia, coisa até então inconcebível. Toda a Arábia havia se tornado muçulmana e os árabes já não mais estavam divididos entre a lealdade ao Islam ou às tribos, porque todos eram muçulmanos e o Islam havia absorvido a todos por igual.

Em linhas gerais, o Islam é uma religião simples, isenta de dogmas e fundamenta-se em 5 pilares básicos: crença em Deus, nos Seus anjos, nos livros e nos mensageiros, no dia do juízo final, e na predestinação. São pilares da fé: o testemunho, a oração 5 vezes ao dia, o pagamento do zakat, o jejum no mês do Ramadã e a peregrinação, pelo uma vez na vida. São fontes do Islam: o Alcorão, a sunnah (ditos e atos) do Profeta e as biografias escritas.


Alcorão, Surata da Abertura



Após a morte do Profeta, as antigas inimizades que tinham sido administradas por ele em vida, tornaram-se mais evidentes. A comunidade muçulmana de Medina estava constituída por quatro grupos principais: os muhajirin, muçulmanos de Meca, que tinham acompanhado o Profeta por ocasião da Hégira; os ansar, cidadãos de Medina, que tinham recebido os muçulmanos de Meca e lutado com eles; os partidários de â??Ali, que defendiam que o sucessor do Profeta deveria ser alguém da família dele (hashemita), no caso â??Áli ibn Abu Talib, genro e primo do Profeta; e os omíadas, pertencentes à aristocracia de Meca, cujo líder do clã era Abu Sufyan.

Esses grupos, de uma forma ou de outra, achavam-se os legítimos sucessores do Profeta. O Profeta não havia determinado a forma de sucessão. Seguindo as tradições, em que a escolha do líder do clã era em função da experiência, sabedoria e prestígio, escolheram Abu Bakr para ser o primeiro califa. Não obstante umas poucas reações, não houve uma oposição declarada à indicação.

Com a morte de Abu Bakr, assumiu o califado Omar ibn al-Khattab. Durante seu período, o império expandiu-se com as conquistas do Iraque, Palestina, Pérsia, Síria e Egito. Omar foi assassinado por um desafeto seu. O terceiro califa foi Osman ibn Affan, que era um membro da casa omíada. Osman governou por doze anos. Os primeiros seis anos foram marcados por uma paz e tranquilidade internas, mas, na segunda metade de seu califado as rivalidades ressurgiram e os descontentes, aproveitando-se da insatisfação entre as pessoas, começaram a conspirar contra Osman. Os rebeldes pediram a sua renúncia, e alguns dos companheiros até pediram que renunciasse. Certo dia, após um longo cerco, os revoltosos entraram em sua casa e o assassinaram.

Quando 'Ali, primo e marido da filha de Mohammad, portanto um hashemita, foi escolhido como o quarto califa, encontrou forte oposição por parte de Muawiya, filho de Abu Sufyan, descendente do clã dos omíadas. Foram cinco anos de guerra civil entre hashemitas e omíadas, que culminaram com o assassínio de 'Ali. Muawiya tornou-se califa e estabeleceu a dinastia omíada, que governou o mundo muçulmano por 90 anos, de 661 a 750. As divergências entre omíadas e hashemitas dividiram o mundo islâmico e perduram até os dias atuais. Aqueles que defendem o direito dos descendentes de 'Ali ao califado, ficaram conhecidos como xiítas (Shia â??Ali - Partido de 'Ali) e, do ponto de vista espiritual, constituem um grupo separado dos sunitas, isto é, aqueles que seguem as sunas (ditos e atos) do Profeta.

A expansão árabe, partindo de um emaranhado de tribos nômades, de um deserto remoto, para transformar-se no maior império do mundo, é um dos eventos mais impressionantes e dramáticos da história mundial. De início, essas conquistas não apresentaram efeitos perturbadores sobre as populações conquistadas. Não havia perseguição religiosa por parte dos muçulmanos, que apenas exigiam que os não-muçulmanos admitissem a supremacia política do Islam, materializada no pagamento de um imposto especial, na proibição de qualquer proselitismo junto a muçulmanos e no caráter puramente árabe do exército. Na verdade, essas restrições pouco afetavam o cotidiano dos povos vencidos. O que é fato é que a vida intelectual floresceu, tanto em Córdoba e Granada como em Damasco e Bagdá.

Após 200 anos de iniciada a expansão islâmica, o domínio do Islam começa a se fragmentar em uma série de governos independentes, cada um deles com uma feição própria, e a supremacia titular do califado passa a ser questionada e, em alguns casos, recusada.

Nos cinco séculos seguintes, as regiões centrais da Ásia começam a sofrer as invasões nômades e o mundo islâmico vai perdendo a unidade política e o brilho militar que haviam caracterizado os primeiros séculos do Islam. A Ásia Ocidental é ocupada pelos turcos seljúcidas, que passam a controlar o califado, partilhando com os fatimidas do Egito, o poder dominante da comunidade muçulmana. Tão importante quanto a chegada dos turcos, foi o surgimento dos mongóis na última grande invasão nômade.


Complexo arquitetônico de Alhambra -- século XIV


Em 1492, o califado de Granada rendeu-se ao exército de Fernando e Isabela, da Espanha, marcando o fim do domínio islâmico na Europa ocidental. Em 1500, já não mais havia esperança de unidade política no mundo islâmico. Eram dois os principais centros islâmicos: o Egito e o império otomano. Duas grandes culturas dividiam os muçulmanos: a cultura árabe, com o predomínio do Egito, e a cultura persa, que se tinha difundido entre os grandes impérios continentais criados pelos povos turcos. Apesar disso, o Alcorão, as tradições e a lei, foram os instrumentos aglutinadores para transformar as divergências em uma força social, o que, em última análise, significava o domínio do árabe.

Quando falamos em estado islâmico, estamos nos referindo ao período da história islâmica em que os princípios e as instruções do Islam foram totalmente aplicados em seu verdadeiro sentido. Esse período começa em 622 DC, quando o Profeta Mohammad estabeleceu o primeiro estado islâmico na cidade de Medina. Depois de sua morte, os quatro primeiros califas que se seguiram (Abu Bakr, Omar, Osman e Ali), aplicaram em sua totalidade todos aqueles princípios islâmicos. O período que se seguiu e que se estende até os dias atuais, podemos dizer que o sistema islâmico autêntico se modificou, transformando-se em monarquias, sem a participação popular na escolha de seus governantes. São sistemas hereditários, semelhantes aos tempos pré-islâmicos, baseados no sistema tribal. O Islam não reconhece esses governos e sequer pode ser responsabilizado por eles.

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A Igreja na Idade Média

Professor: Juberto Santos**

A história da Igreja cobre um período de aproximadamente dois mil anos, é uma das mais antigas instituições religiosas em atividade, influindo no mundo em aspectos espirituais-religiosos, morais, políticos e sócio-culturais. Não poderíamos assinalar a Cristandade Medieval sem antes, rapidamente, marcar as primeiras comunidades cristãs.

A Igreja Primitiva

Era a Igreja formada pelos primeiros cristãos em áreas urbanas (forma organizada das cidades romanas), onde as transformaram (At 17,4). Todos continuavam firmes no ensino dos apóstolos, viviam em amizade uns com os outros, e se reuniam para as refeições e as orações. O melhor documento histórico para entendermos bem o período é o livro dos Atos dos Apóstolos, onde vemos como essas comunidades se desenvolveram, suas dificuldades nos arredores da Palestina e parte da Ásia menor. Ao ler At 2, 42-47, podemos perceber o dia-a-dia dos primeiros cristãos. Eles viviam em regime de comunhão de bens, se aplicavam também na Oração (sendo a força catalisadora para a mudança de vida  a oração precisa da razão, assim como a fé), a fração do pão (partilha do todo, segundo a necessidade de cada um – o “pão” – sendo visto como a totalidade da necessidade) e havia meditação na Doutrina dos Apóstolos (consideravam o estudo, a investigação e a reflexão para terem certeza daquilo que iriam acreditar). Sua atuação se dá em Atenas, Jerusalém, Éfeso, Corinto, Roma, Alexandria, Antioquia e Tessalônia. Os primeiros cristãos mudavam as cidades, mexiam com o sistema, eram intelectuais... Podemos dividir esse período em “Período Apostólico” (30-70 d.C), “Período Sub-apóstólico” (70-135 d.C) e “Período dos Mártires e da Institucionalização da Igreja” (135-313 d.C). O termo “Apóstolo” significa “enviado”, em grego. Missionários itinerantes, que tiveram contato com Jesus de Nazaré. Foram testemunhas oculares. Até o ano 100 d.C os cristãos ainda são bem desconhecidos. Os romanos os confundem com os judeus. Aos poucos, o cristianismo vai mostrando sua existência. Era o início da “Grande Igreja”. O Cristianismo nasceu e desenvolveu-se dentro do quadro político-cultural do Império Romano. Durante três séculos o Império Romano perseguiu os cristãos (época das perseguições), porque a sua religião era vista como uma ofensa ao estado, representava outro universalismo e proibia os fiéis de prestarem culto religioso ao soberano. Aos poucos se propagou em Roma e pelo império. As principais e maiores perseguições foram as do imperador Nero, no século I (morte de Paulo, Pedro), a de Décio no ano 250, a de Valeriano (253-260) e a maior, mais violenta e última a de Diocleciano entre 303 e 304 que tinha por objetivo declarado acabar com o cristianismo e a Igreja. O balanço final desta última perseguição constituiu-se num rotundo fracasso, Diocleciano, após ter renunciado, ainda viveu o bastante para ver os cristãos viverem em liberdade. No século IV, o Cristianismo começou a ser tolerado pelo Império, para alcançar depois um estatuto de liberdade e converter-se finalmente, no tempo do imperador Teodósio (379-395), em religião oficial do Estado (380). O imperador romano, por esta época, convocou as grandes assembléias dos bispos, a saber, os concílios e a Igreja puderam então dar início à organização de suas estruturas territoriais.

O Concílio de Jerusalém (49 d.C) - Ele seria o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo. A admissão de gentios (não-judeus) era um fato de difícil compreensão para os cristãos-judeus, que ainda se encontravam em parte presos às velhas tradições e práticas antigas. Foi presidido pelo Apóstolo Pedro. Seria o Concílio de Jerusalém, o primeiro deles. Assim foi aceito o batismo de não-judeus. “A salvação é pela fé e pela graça, não pela observância da Lei” (At 15:7-11).

Início do Monaquismo (séc. IV) - A Cristandade instrumentaliza a Igreja pelo Estado até um determinado ponto. Alguns bispos e os ascetas (eremitas) percebem esse perigo da “mundanização da Igreja”, pois o imperador está “na Igreja e não acima da Igreja” (Santo Ambrósio, bispo de Milão). Eremitas (Latim) / Anacoretas “ir para” (Grego) / Mônacos (Grego)  pessoas solitárias que fugiam do convívio das cidades e aldeias e iam para as margens do deserto. Esses bispos escrevem textos assinalando fronteiras, pois a igreja está no mundo, mas não é o mundo. Ela podia ser protegida pelo Estado, mas não queriam pagar com a sua submissão perante ele. Ela não é poder político. Primeiramente esse movimento é considerado “anárquico”, pois ele se automarginalizou, contudo, foi recuperado pela Igreja e deixou de ficar a margem.

A Cristandade Medieval

Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas invasões ou migrações germânicas e ao esfacelamento do Império Romano, praticamente apenas a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se como instituição. Vemos os Vândalos na África, os Visigodos na Hispania, os Francos na Gália, os Anglos e Saxões nas Ilhas Britânicas, os bárbaros na Itália. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja foi difundindo o cristianismo entre os povos bárbaros, enquanto preservava muitos elementos da cultura greco-romana. Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação política da sociedade feudal. O termo católico (adjetivo grego que significa “Universal”) é usado a partir do Concílio de Trento (1545 - 1563) para designar a Igreja Romana em oposição às Igrejas da Reforma. Antes, o termo utilizado era Cristandade.

Periodização

A Idade Média (Medium Aevum ou Middle Age)  Termo usado para o período situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no período do Renascimento (XVI) volta do somente para a região da Europa Ocidental, ou seja, não há Idade Média na África, Japão, China... Tem como marco inicial o ano de 476 d.C (fim do Império Romano no Ocidente – tomada de Roma, pelo imperador germânico Odoacro) e tem seu término no ano de 1453 d.C (Fim do Império Romano no Oriente - Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos). Suas características, entretanto, nunca foram às mesmas no tempo ou no espaço, pois não havia unidade nesse período. É preciso dizer o contexto específico. O período está dividido em: Alta Idade Média (séc. VI - X), Idade Média Central (séc. XI - XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV e XV). Há até hoje um forte preconceito sobre este período, tomado como “Idade das Trevas”, “Escuridão”, de “Pestes e Guerras”, não havia “cidades, nem comércio”, dentre outros adjetivos. Contudo, deve ser levado em consideração que num período de mil anos, não houve apenas pestes, guerras..., Temos que ter um olhar consciente: Nesse período houve a criação das Universidades, da letra minúscula, Parlamento, Hospitais, Tribunal com Júri, aperfeiçoamento da Matemática, geografia, escrita... Devemos estudá-la sem preconceitos, com um olhar crítico e consciente.

A Cristandade

Entende-se Cristandade por um sistema de relações da Igreja e do Estado (ou qualquer outra forma de poder político) numa determinada sociedade e cultura. Ela perdura até praticamente a Revolução Francesa (1789), com várias modalidades dentro desse processo através dos séculos. Na história do cristianismo, o sistema iniciou-se por ocasião da Pax Ecclesiae em 313 (paz concedida pelo imperador Constantino à Grande Igreja), com o Edito de Milão (põe fim às perseguições) e deu origem à primeira modalidade de Cristandade dita “constantiniana” a qual se apresenta como um sistema único de poder e legitimação da Igreja e do Império tardo-romano. As características gerais desta modalidade “constantiniana” são, entre outras, o cristianismo apresentar-se como uma religião de Estado, obrigatória, portanto para todos os súditos; a relação particular da Igreja e do Estado dar-se num regime de união; a religião cristã tender a manifestar-se como uma religião de unanimidade, multifuncional e polivalente; o código religioso cristão, considerado como o único oficial, ser, todavia diferentemente apropriado pelos vários grupos sociais, pelos letrados e iletrados, pelo clero e leigos. A figura ao lado é o “Monograma de Cristo”, da época de Constantino. Ele é formado por duas letras entrelaçadas, as letras gregas "chi" (X) e "rô" (P). Essas letras são as iniciais de "Christós", em grego: CRISTOS”

Os Padres da Igreja

Os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e V, embora possa se entender que se estenda até o século VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do Oriente foram: Eusébio de Cesaréia, Santo Atanásio, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nisa, Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria. Os principais Padres do Ocidente são: Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra prima da literatura universal e Santo Ambrósio, Eusébio Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e Gregório Magno, este um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "os Morais e os Diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o canto "gregoriano" permanece vivo até os dias de hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, é considerado o último dos grandes padres ocidentais.

A Cristandade Medieval

A Cristandade medieval ocidental é, em certa medida, a continuadora da Cristandade antiga, a do “Império Cristão” dos séculos IV e V. No contexto medieval, acentuou-se muito mais a situação de unanimidade e conformismo, obtida por um consenso social homogeneizador e normatizador, consenso este favorecido pela constituição progressiva de uma vasta rede paroquial e clerical. As instituições todas tendiam, pois, a apresentar um caráter sacral e oficialmente cristão. Sabemos que nela predominou, em geral, a tutela do clero. Não, todavia durante os séculos IX e X, quando a tutela dos leigos sobre as instituições eclesiais a levou à sua feudalização, o que provocou a partir do século XI, o grito dos reformadores, sobretudo eclesiásticos: libertas Ecclesiae. Ocorreu então a reforma “gregoriana”, no século XI, que operou a síntese de uma reforma na e da Igreja, de uma reforma “na cabeça e nos membros”.

Alguns Fatos Históricos Relevantes

- A Distinção Gelasiana (494)  O Bispo de Roma, “Papa” Gelásio I (492-496) efetuou a distinção entre o poder temporal dos imperadores e o espiritual dos papas, considerando superior o poder destes últimos. Envia um documento ao imperador do Oriente (Anastácio).Definiu a teoria dos dois poderes: o poder temporal (poder do imperador) e o poder espiritual (poder dos bispos). Os bispos, de acordo com essa teoria, seriam superiores ao poder temporal. Estabelecido ainda que a figura do papa não poderia ser julgada por ninguém. Dizia que o papel do Pontífice era antes ouvir do que julgar.

- As Heresias – Define-se como negação ou dúvida pertinaz de uma verdade que se deve crer com fé divina e católica, por quem recebeu o batismo. Ao longo da história da Igreja vemos: O Gnosticismo (séc. II); Maniqueísmo (séc. III); Arianismo (séc. IV); Pelagianismo (séc. V); Iconoclastas (séc. VIII); Cátara e valdense (séc. XII-XIII); Protestantismo e Anglicanismo (séc. XVI); Jansenismo (séc. XVII); Modernismo (séc. XIX). O relativismo doutrinal e moral é tido como a grande heresia atual. O rigor da Igreja no combate às heresias e cismas variaram ao longo dos tempos, com períodos de grande repressão, sobretudo quando tais desvios eram cominados com penas graves pelo poder político.

- Os Mosteiros – Vemos com São Bento de Nursia (529), uma retomada e revigoramento dos mosteiros. Os ermitões (Ermo - desertos), atuavam sozinhos e passam a se organizar em pequenos grupos. São Bento traça uma regra, dando uma forma a vida monástica, a qual passa a ser copiada em outros mosteiros. O dia do monge é dividido em 7 momentos de oração, mais o trabalho manual (penitência), produz seu alimento. “Ora et Labora”. Não é necessário buscar mosteiros distantes, mas se santificar com aqueles que convive. Deu forma ao monasticismo medieval. Ao longo da Idade Média vemos que os mosteiros preservam as escrituras sagradas, tornam-se refúgio, guardam as obras de arte e cultura...

- Fragmentação do Império Romano no Ocidente  Com as migrações germânicas e a queda do Império Romano no ocidente (476) os bispos começam a buscar a unificação. Apelam para a elite romana “Romanitas”, que passam a defender os valores cristãos. Os reis bárbaros vão se convertendo ao longo dos anos. Vemos a ação do papa Gregório I, o Magno (590-604) assinala que “todo o poder foi dado ao alto aos meus senhores para ajudar os homens a fazer o bem”. Assim os bispos e o Imperador e os reis têm a função de ajudar o bem e punir o mal. Primeiro papa monge, intitulava-se Servidor dos Servidores de Deus. Aproveitou-se da falência imperial na Itália para assumir o poder temporal. Desligou-se da influência bizantina e aproximou-se dos germânicos. Visigodos, suábios e lombardos se converteram. Agostinho foi à Inglaterra e converteu os anglo-saxões. Os escritos de Gregório Magno instruíram o clero e fortaleceram a religiosidade dos fiéis. Sua Regra Pastoral serviu de manual para os padres em toda a Idade Média.

- As Cruzadas - Atendendo ao apelo do papa Urbano II, em 1095, foram organizadas na Europa expedições militares conhecidas como cruzadas (esses missionários assim se chamavam pela cruz de pano que levavam na veste), cujo objetivo oficial era conquistar os lugares sagrados do cristianismo (Jerusalém, por exemplo) que estavam em poder dos muçulmanos e turcos. Entretanto, além da questão religiosa, outras causas motivaram as cruzadas: a mentalidade guerreira da nobreza feudal, canalizada pela Igreja contra inimigos externos do cristianismo (os muçulmanos); e o interesse econômico de dominar importantes cidades comerciais do Oriente. Os cristãos eram estimulados pelas indulgências que lhes prometiam o perdão dos pecados e a posse do céu. De 1095 a 1270, a cristandade européia organizou oito cruzadas, tendo como bandeira promover guerra santa contra os infiéis. Era a guerra santa, justa, pois eles estavam difamando o santo sepulcro, a terra santa. Foram, ao todo, oito grandes incursões. Vemos a Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096), Primeira Cruzada (1096-1099), Segunda Cruzada (1147-1149), Terceira Cruzada (1189-1192), Quarta Cruzada (1202-1204), Cruzada Albigense, Quinta Cruzada (1217-1221), Sexta Cruzada (1228-1229), Sétima Cruzada (1248-1250), em março de 1270, o rei Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada - Oitava Cruzada (1270), a qual fracassa e ele morre em combate.

- Querela das Investiduras - A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador. No século X, o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias; nomeou seus titulares (abades leigos) e, em troca da proteção que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa. Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-se de sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa. No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de do mosteiro de Cluny (França). Esses ideais foram ganhando força dentro da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem reformista.

- A Reforma Gregoriana (Século XI) – Os papas escolhidos passam a ser de origem germânica (monges), logo os papas romanos saem de cena, pois os primeiros não teriam parte com a política local. Com isso as reformas têm inicio com esses papas de origem monástica, com amplas mudanças de cima para baixo, hierarquizada, uma reforma das instituições. Hildebrando, reformador ligado ao movimento de Cluny, tinha acesso ao papa e, sob sua influência, Nicolau II criou em 1059 o Colégio dos Cardeais, com finalidade de eleger o papa, limitado o cesaropapismo. Primeiro, há uma reforma do clero, contra os abusos existentes, das instituições (reforma da Igreja). Também havia a necessidade da mudança dos corações, dos pensamentos (reforma na Igreja). A reforma viria do papado, passaria pelos bispos, presbíteros e monges até chegar aos leigos. Esse espírito de reforma foi lento e progressivo, aos poucos, vemos os abusos sendo retirados. Em 1073, Hildebrando foi eleito papa, com o nome de Gregório VII. Instituiu totalmente o celibato dos sacerdotes, em 1074, e proibiu que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. O Imperador alemão Henrique IV reagiu dando o papa como deposto. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual do papa. O papa considerou o imperador igualmente deposto, excomungando-o, e proibindo os vassalos de lhe prestar serviço, sob pena de excomunhão. Há uma interdição (sem batismos, sem eucaristia, sem extrema unção). Henrique foi ao Castelo de Canossa em 1077 e pediu perdão ao papa, que o concedeu. Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

- Hospitalários (Ordem dos) - O ideal cavalheiresco da Idade Média levou à criação de várias instituições de apoio aos doentes internados, ordem leiga de caráter assistencialista (1113), hospital para os peregrinos que vinham feridos e cansados.

- Os Templários - Ordem fundada em França (1119) para lutar contra os infiéis. O nome veio-lhes da casa que tiveram em Jerusalém sobre as ruínas de uma mesquita (cavaleiros da Ordem doTemplo). Fazem votos dados pelo patriarca de Jerusalém. Em 1129, vê-se a implantação militar. Prestaram notáveis serviços na Terra Santa e no Sul da Europa, chegando a ter 5 províncias e 4000 membros. É oficializada em 1199. As benesses recebidas de reis e papas deram-lhes grande poder financeiro, o que levou Filipe o Belo, rei de França, a acusá-los, com a conivência da Inquisição, de crimes graves, obrigando o Papa (Clemente V) a suprimi-los. Muitos foram mortos. Os seus bens, em França, foram confiscados pelo rei; em Portugal, passaram para a Ordem de Cristo, fundada por D. Dinis.

- Cisma do Ocidente (1378-1417) - resultante da coexistência de papas e antipapas, fruto de rivalidades dentro e fora da Igreja. Não há um “cisma” de fato, pois o que se dividiu é a obediência a dois papas e não à obediência eclesial. Após a morte do papa Gregório XI, há um conclave com 16 cardeais e depois de muitas dificuldades elegem um italiano, Urbano VI. Ele era intransigente, rude, indelicado e os cardeais assinalam que querem rever a decisão e pedem a sua renúncia. Ele rejeita. Grande parte dos cardeais vão para Nápoles e realizam novo Conclave, elegendo Clemente VII. A Igreja passa a ter “dois papas”. Eles ficam em Avinhão (França). A obediência fica dividida, ambos governando. Estados que apoiavam Urbano VI (Escandinávia, Flandres, Inglaterra, o Imperador e a maioria dos príncipes) usam a força para destituir Clemente VII (apoiado pelos parentes do rei da França Carlos V, Escócia, Castela), como uma cruzada. Essa seria a “Via Facti”. Os reis, os prelados, os párocos, as ordens religiosas tomam partido e ajudam nessa adesão de obediências. Em 1394, morre Clemente VII e é eleito Bento XIII. Também morre Urbano VI e é eleito Gregório XII. Continuam dois papas a governar. Em 1409, os dois grupos buscam uma via conciliar para resolver a situação, com o Concílio de Pisa, destituem os dois papas e elegem Alexandre V (com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na Igreja). Os dois papas não aceitam e a igreja passa a ser governada por 3 papas. Alexandre V morre e é eleito João XXIII (nome depois cancelado e renascido somente no século XX - e já no ano seguinte tomou posse da catedra romana). Apenas em 1417, vemos uma solução: João XXIII se demite, Gregório XII abdica e Bento XIII é deposto e se isola na Catalunha, sem apoio. Martinho V (1417-1431) é eleito e traz a unicidade novamente. Retorna para Roma. Em 1439, ainda teríamos o antipapa Félix V, contudo, não avança tal fato.

- A Inquisição - Tribunal eclesiástico para averiguar e julgar os acusados de heresia. A sua instituição jurídica data de 1232 (Inquisição Medieval), pelo papa Gregório IX, para disciplinar as freqüentes práticas persecutórias da parte do povo e dos príncipes, muitas vezes sob a forma de linchamentos. No séc. XI apareceu uma heresia fanática e revolucionária, como não houvera até então: o Catarismo (do grego katharós, puro) ou o movimento dos Albigenses (de Albi, cidade da França meridional, onde os hereges tinham seu foco principal). Em geral, a Inquisição quando condenava um herege entregava-o ao braço secular, para lhe aplicar o castigo previsto nas respectivas leis e costumes, incluindo a morte na fogueira. A Igreja aplicava a condenação espiritual, “no outro mundo”. O seu funcionamento dependia muito dos inquisidores, que eram normalmente dominicanos, alguns deles elevados às honras dos altares (como S. Pedro de Verona, morto às mãos dos Cátaros). Devem reconhecer-se, além da crueza própria dos costumes de então, verdadeiros abusos e injustiças (como a condenação dos Templários e de Sta. Joana de Arc). Ficou também célebre a condenação (sem execução) de Galileu. Nos sécs. XV-XVI, a Inquisição foi reorganizada para enfrentar a heresia protestante, em geral, a pedido dos príncipes católicos. Em Espanha foi autorizada em 1478, em moldes que a fazia depender muito do poder civil. Em Portugal teve acuação moderada desde o séc. XIV, mas só se tornou particularmente rigorosa com D. Manuel I e D. João III, pelas medidas discriminatórias contra judeus e cristãos-novos. A Inquisição é inconcebível para a atual mentalidade, mas a sua correta apreciação deve ter em conta os tempos em que vigorou, em que a heresia era sentida como perigo grave para a unidade da Igreja e do Estado, e em que as penas aplicadas eram comuns no direito corrente dos povos. A Igreja aplicava as penas espirituais (na outra vida), tais como a excomunhão. Os condenados pela inquisição eram entregues às autoridades administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas a cada caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.

A intervenção do poder secular exerceu profunda influência no desenvolvimento da inquisição. As autoridades civis anteciparam-se na aplicação da forma física e da pena de morte aos hereges; instigaram a autoridade eclesiástica para que agisse energicamente; provocaram certos abusos motivados pela cobiça de vantagens políticas ou materiais.

De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Média estavam, ao menos em tese, tão unidos entre si, que lhes parecia normal recorrer um ao outro em tudo que dissesse respeito ao bem comum. Quanto a Inquisição Papal instituída no séc. XVI era herdeira das leis e da mentalidade da lnquisição medieval. Os países ibéricos (Portugal e Espanha) foram os grandes difusores do Santo Ofício, principalmente no Novo Mundo.

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A Guerra dos Cem Anos

A GUERRA DOS CEM ANOS

Por Claudio B. Recco

Introdução

A Guerra dos Cem Anos foi um longo conflito que envolveu a Inglaterra e França entre os séculos 14 e 15, período marcado por transformações socioeconômicas e políticas, que caracterizaram a crise do sistema feudal.
O grande crescimento populacional e das cidades, assim como o movimento das Cruzadas, foi responsável pela reativação da produção e do comércio, e deu uma nova dinâmica às sociedades européias. Do ponto de vista político, os reis fortaleceram e centralizaram o poder, refletindo os novos interesses que se desenvolviam, relacionados à formação de uma camada de mercadores e a adaptação da nobreza e de seus interesses.
Para os mercadores, as estruturas feudais representavam um obstáculo ao desenvolvimento, uma vez que a autonomia de cada feudo permitia que houvesse uma variação muito grande moedas, leis, exércitos, sistema de pesos e de medidas, dificultando a circulação de mercadorias. Por isso os grupos mercantis e, em particular os habitantes dos burgos, tenderam a apoiar a centralização do poder real, com o intuito de unificar os mercados. Apesar de pouco numerosos e considerados como um grupo marginal, os burgueses formavam uma camada nascente que acumulava capitais e contribuía financeiramente para o rei armar seus exércitos.

A formação das nações

O processo de centralização política pode ser percebido desde o século 12, de forma sutil, na medida em que os reis exigiam que seus vassalos se subordinassem a seus tribunais.
A formação das Monarquias nacionais é normalmente apresentada como um processo linear, ou seja, um processo político onde, gradualmente o rei aumenta seu poder ao longo do tempo e, ao contrário, a nobreza e o clero perdem poder e espaço político. Apesar dos grandes interesses em jogo, a centralização do poder real encontrou peculiaridades em cada região européias ou em cada nação em formação.
Na Península Ibérica, a formação dos reinos está diretamente vinculada a Guerra de Reconquista e mescla interesses feudais e comerciais. O condado portucalense, que deu origem ao Reino de Portugal, era inicialmente, uma possessão feudal, fruto das alianças entre grandes nobres durante a guerra. A independência de Portugal frente à Castela por sua vez, representou a quebra da vassalagem devida até então.


Durante a Baixa Idade Média, a Inglaterra viveu um processo contraditório em relação à disputa política. No início do século 13 a nobreza inglesa impôs ao rei João Sem Terra a "Magna Carta", documento que estabeleceu limites ao poder real, principalmente em relação às questões jurídicas, tributárias e que envolvessem a guerra; desde 1215 o rei deveria consultar um "Conselho de Nobres" para tomar decisões sobre essas questões. Se por um lado o poder real ficou limitado, por outro foi reconhecido e legitimado, ao mesmo tempo em que possibilitou que as relações entre o rei e a nobreza se tornassem mais equilibradas, garantindo ao rei maior prestígio e subordinação por parte dos súditos, responsáveis por fornecer ao rei os recursos matérias necessários para as guerras. Nesse sentido os exércitos ingleses, formados pelos homens cedidos pelos grandes barões e comandados pelos mesmos, podiam ser considerados mais organizados e disciplinados. Gradualmente o poder real se fortaleceu.
Na França a situação era diferente, a centralização política aparentemente caminhava a passos largos, a vitória de Luis 8º sobre João Sem Terra e a política tributária centralizadora de Felipe, o belo, fizeram com que o poder real fosse reforçado.

Os Atritos

Vários fatores determinaram o aumento de hostilidades entre Inglaterra e França, num primeiro momento, interesses que envolviam os reis e importantes setores da nobreza. No século 12, o rei Henrique II da Inglaterra se casou com Leonor da Aquitânia e, segundo as tradições feudais, tornou-se vassalo do rei da França nos ducados da Guyenna e Gasconha. Desde então as relações entre os reis da Inglaterra e França foram marcadas por conflitos políticos e militares. No entanto, durante esse período não podemos pensar uma guerra entre nações ou países. Mesmo mais tarde, no século 15, durante o famoso episódio que envolveu Joana Dáarc, é muito difícil tratar de nação e portanto de nacionalismo. Os conflitos do período muitas vezes tiveram nobres ingleses aliados ao rei da França, em outras ocasiões a situação é inversa.
O próprio Henrique 2º foi vitima de uma conspiração que envolveu seus dois filhos, Ricardo, o coração de leão e João, sem terra, que para destronar o pai se aliaram ao rei da França Filipe Augusto. As disputas envolvendo os dois reinos pelo trono da Inglaterra também servem para demonstrar que a luta pelo poder não tem nacionalidade. A rebelião dos barões ingleses em 1215que deu origem a Magna Carta atesta essa situação mais uma vez. Os ingleses perderam suas possessões em França.
Outro ponto de atrito entre as duas monarquias era a região de Flandres, rido entreposto comercial, situado a nordeste da França, a qual estava subordinado politicamente. Além do intenso comércio estabelecido na região, Flandres era importante centro produtor de tecidos, que consumia grande parte da lã produzida pela Inglaterra. Essa camada urbana vinculada à produção de tecidos e ao comércio posicionava-se a favor dos interesses ingleses e portanto, contra a ingerência política francesa na região.



No entanto, a situação tornou-se verdadeiramente crítica quando o Conde de Nevers, regente de Flandres desde 1322, prestou juramento de obediência ao seu suserano Filipe de Valois, decisão que poderia paralisar a economia flamenga, pois, com a morte do terceiro e último filho de Filipe IV, o Belo (Carlos IV, 1328), o trono da França passou para um de seus sobrinhos, justamente Filipe de Valois, que adotou o nome de Filipe VI (1328 a 1350). Instigado por Jacques Artervelde, rico mercador que já havia liderado uma rebelião na cidade flamenga de Gand, o rei da Inglaterra Eduardo III (1327 a 1377) reclamou para si a coroa francesa, alegando sua condição de neto (pelo lado materno) de Filipe, o Belo.

A Guerra

Os franceses acusavam os ingleses de desenvolverem uma política expansionista, percebida pelos interesses na Guyenne e em Flandres. Já os ingleses insistiam em seus legítimos direitos políticos e territoriais na França.
Em 1337 Felipe VI, de Valois, rei da França, atacou a Guyenne iniciando o conflito que duraria décadas e diversas gerações. Além disso exerceu intenso assédio ao litoral inglês durante meses, até ser derrotado em 1340.
Durante o reinado desses dois reis, as Batalhas de Crécy e de Calais, em 1346 e 1347 respectivamente, foram as mais importantes, ambas com vitórias inglesas, que garantiram a Eduardo III importantes posições no norte do país, mantendo o Canal da Mancha sob seu controle. Para tanto o rei da Inglaterra contou com o apoio financeiro de grandes mercadores de Flandres e do duque da Bretanha, que voltou-se contra o monarca francês. O avanço e a conquista inglesa só não forma maiores porque os dois países, como a maior parte da Europa, estavam sendo duramente atingidos pela peste negra, que foi responsável por interromper a guerra.
O período seguinte da guerra foi comandado por Eduardo IV da Inglaterra, conhecido como "o príncipe negro" (por conta da cor de sua armadura), e por João II, conhecido como "o bom", que sucedera ao pai no comando do reino francês. Esse período foi caracterizado por sucessivas vitórias inglesas, contando com o apoio de muitos nobres locais, mais preocupados em preservar seus domínios do que com a lealdade devida ao rei da França, possibilitando o domínio de cerca de um terço do território francês nas regiões norte e oeste, Em 1356, quando da batalha de Poitiers, o rei João II foi capturado e levado como prisioneiro para a Inglaterra, onde morreria oito anos depois, momento que representou o ápice das conquistas inglesas e, pelo contrário, o momento mais delicado para a França na guerra, forçando-a a assinar o Tratado de Brétigny (1360) que reconhecia o domínio inglês sobre as regiões conquistadas e devolvia os territórios tomados no início do conflito.
Após a morte de João II, o bom, o reino francês foi comandado por seu filho, Carlos V que enfrentou sucessivas revoltas camponesas, as mais famosas conhecidas como "Jacqueries", e também urbanas. O rei não reconheceu os acordos anteriores e de 1360 a 1380 obteve vitórias significativas sobre os ingleses retomando grande parte do território perdido. As vitórias desse rei, fruto da reorganização militar, fortaleceram a idéia de centralização política, possibilitou submeter a maior parte da nobreza, aumentar a arrecadação tributária e organizar o Estado com elementos oriundos da burguesia em cargos de confiança.
As últimas décadas do século 14 e as décadas iniciais do século seguinte foram marcadas pelas disputas internas nos dois países, arrefecendo momentaneamente a guerra externa. No caso da Inglaterra ocorreram rebeliões camponesas lideradas por Wat Tyler, contra a servidão e posteriormente as disputas envolveram parte da nobreza, que lutou contra o rei, e culminou com a ascensão de Henrique de Lancaster ao trono em 1399, com o título de Henrique IV. Na França as lutas internas foram mais complexas e envolveram os interesses da região da Borgonha, antigo feudo poderoso, que lutou constantemente por seus interesses particulares. Em Considerando Carlos VI como incapaz, os Borguinhões pretenderam tomar o poder e aliaram-se aos ingleses. Ao lado da família real ficaram o irmão do rei, Luis de Orléans e Bernardo de Armagnac. Nesta guerra civil, destacaram-se João sem medo de Borgonha e o Delfim Carlos, que mesmo deserdado pelo pai manteve a liderança das tropas francesas contra os ingleses e mais tarde assumiria o trono como Carlos VII (1422).
Os conflitos forma retomados desde 1413 por Henrique V, que sucedera o pai e procurou se aproveitar da guerra interna à França. A Batalha de Azincourt em 1415 representa o grande momento da nova ascensão inglesa que, vitoriosa, impôs o Tratado de Troyes, em 1420, aos franceses, que garantia a Inglaterra todo o norte do país, inclusive Paris e, o mais grave, destituía o Delfim Carlos, colocando-se Henrique V da Inglaterra como sucessor do trono francês. Para consolidar tal acordo, Henrique casou-se com Catarina, filha do rei Carlos VI, e portanto irmã do Delfim.



Em 1422 os reis dos dois países morreram. Henrique V da Inglaterra e Carlos VI da França. Oficialmente o trono era herdado por Henrique VI, criança recém nascida, enquanto o Delfim Carlos viria a ser coroado apenas em 1429, em Reims, num momento onde a guerra tomou novo rumo, em grande parte atribuído a figura de Joana Dáarc, camponesa que liderou tropas do sul da França em apoio ao rei.
A figura de Joana Dáarc tornou-se um mito e ainda hoje e tratada dessa maneira pela historiografia predominante. Destaca-se o aspecto religioso nesse processo de mitificação, tanto pelo fato de "ter tido visões" que a levaram a participar da guerra, ou ainda pelo fato de ser transformada em "heroína nacional", numa época em que é praticamente impossível falar em nacionalismo.


Claudio B. Recco, é formado em História pela USP, leciona no Curso Objetivo de Mogi das Cruzes e no Colégio Rio Branco em São Paulo.
Colaborador do Caderno Fovest da Folha de São Paulo, foi o idealizador e é o responsável pelo HISTORIANET. Coordena a Educaweb - assessoria educacional e cultural

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A Espanha Islâmica - Parte 2

Por Mônica Muniz

OS ALMOADAS NA ANDALUZIA

Os almoadas invadiram a península e reconstruíram pela segunda vez a unidade andaluza, tornando-a independente do Marrocos. Também foram bem sucedidos em suas tentativas de conter o avanço cristão. Foram os responsáveis pela maior vitória militar contra o rei de Castela, em Alarcos.

Sob a dinastia almoada o comércio andaluz floresceu e Sevilha tornou-se a capital do mundo islâmico ocidental. No entanto, o fanatismo religioso e a intolerância incondicional trouxeram insatisfação à população. Averróes, o famoso filósofo, teve seus livros queimados e não fosse a iniciativa de seus discípulos em preservar sua obra, muito teria sido perdido.

Enquanto isso, Castela, Navarra e Aragão uniam-se contra os almoadas, que foram derrotados na batalha decisiva de Al Uqab. Esta vitória garantiu aos cristãos passagem pelo rio Guadalquivir.

Em 1224, pela terceira vez a Andaluzia sofreu mais uma fragmentação política. Foram instalados uma série de pequenos reinos "taifas", onde predominavam as tensões e lutas internas que viriam a enfraquecer definitivamente a Andaluzia, frustrando qualquer tentativa de impedir o avanço cristão.

As sucessivas conquistas alcançadas por Castela e Aragão reduziram a Espanha muçulmana aos domínios de Granada. Como um estado vassalo de Castela, a dinastia nasrida de Granada administrou o reino por cerca de dois séculos e meio. Embora sua importância política fosse pequena no comércio e nas artes, o califado de Granada alcançou grande prestígio. Finalmente, em 1492 , os reis católicos sitiaram a cidade de Granada, cumprindo o último estágio da Reconquista Espanhola e pondo um fim ao domínio muçulmano na península.


ESPANHA MUÇULMANA
Períodos almorávida e almoada



CONTRIBUIÇÕES DA ESPANHA ISLÂMICA

Para a civilização ocidental, as contribuições da Espanha islâmica foram de valor inestimável. Quando os muçulmanos entraram no sul da Espanha, os bárbaros do norte tinham devastado grande parte da Europa, a civilização clássica greco-romana tinha desaparecido e a Europa vivia um longo período de trevas imposto pela Igreja. Os muçulmanos da Espanha construíram uma civilização e produziram uma cultura que foi a mais sofisticada durante a Idade Média. A Espanha islâmica foi a ponte pela qual todo o legado científico, tecnológico e filosófico da antiguidade, dos abássidas e da própria cultura islâmica, foi passado para a Europa. Um tesouro que ficou materializado em obras que tornaram-se fontes inesgotáveis de conhecimento e aprendizado dos europeus por muitos séculos.

No primeiro século de governo muçulmano, a cultura foi fortemente influenciada pela próspera civilização que se desenvolveu em Bagdá, sob a égide dos abássidas. Mas foi no século X, durante o reinado de Abdul Rahman III (912-961), que a Espanha islâmica atingiu o seu apogeu e começou a apresentar suas próprias realizações. O comércio e a agricultura progrediram, as artes e as ciências tiveram grande estímulo por parte do estado e Córdoba tornou-se a mais sofisticada cidade européia. Abdul Rahman III, um apaixonado pela religião e pelas ciências seculares, estava determinado a mostrar ao mundo que sua corte em Córdoba igualava-se em grandeza à dos califas de Bagdá. Sem poupar esforços, tempo ou dinheiro, ele importou livros de Bagdá e recrutou sábios, poetas, filósofos, historiadores e músicos, e todos acorreram a Al-Andalus em busca de espaço para expressarem seus talentos. Ele construiu uma infra-estrutura composta de bibliotecas, hospitais, instituições de pesquisa e centros de estudos islâmicos, criando a tradição intelectual e o sistema educacional que tornariam a Espanha um centro de referência pelos quatro séculos seguintes.

No século X, Córdoba podia orgulhar-se de ter uma população de mais de 500.000 habitantes. A cidade possuía 700 mesquitas, perto de 60.000 palácios e 70 bibliotecas, sendo que uma delas abrigava 500.000 manuscritos e uma equipe de pesquisadores, tradutores e encadernadores. Córdoba também possuía 900 casas de banho e foi a primeira cidade européia a ter suas ruas iluminadas. Madinat al-Zahra, a residência do califa, era um complexo de mármore, estuque, marfim e ônix e foi considerada, até ser destruída no século XI, uma das maravilhas da época.


Casa de Banhos


O interesse pelas ciências da natureza começou a ser desenvolvido em Al-Andalus a partir do século XI. Os sábios muçulmanos entendiam que o conhecimento da natureza era uma forma de elevação a Deus. Os estudos iam da física à música, então considerada um ramo da teoria matemática, passando pela botânica, zoologia, astronomia, geografia, história, e, sobretudo, filosofia e medicina. Enquanto a Europa mergulhava em completa escuridão, o mundo muçulmano entrava em sua fase mais brilhante, que ficou conhecida como a Idade de Ouro do Islam. Trabalhos de filósofos e médicos gregos foram traduzidos para o árabe, e depois para o latim, e livros sobre medicina e oftalmologia foram adotados pelas universidades européias até o século XVI. Mas, foi no campo da matemática que eles se sobressaíram. Inventaram a álgebra, a trigonometria, os logarítmos e os cálculos trigonométricos, o seno e o coseno, tangente e cotangente, que abriram caminho para a ciência moderna.

Um dos primeiros sábios a chegar em Al-Andalus foi 'Abbas ibn Firnas, que veio para ensinar música. Ele não se limitou a um único campo de estudo e logo começou a investigar a mecânica do vôo. Construiu um par de asas presas a uma estrutura de madeira e fez a primeira tentativa de voar, antecipando-se a Leonardo da Vinci em mais ou menos seiscentos anos. Mais tarde, construiu um planetário, que era mecanizado e simulava fenômenos meteorológicos, como raios e trovões.

Al-Zarqali, conhecido no ocidente como Arzaquel, foi um notável matemático e astrônomo que viveu em Córdoba, no século XI. Combinando o conhecimento teórico com a habilidade técnica, construiu instrumentos astronômicos e um relógio d'água, capaz de determinar as horas do dia e da noite e de indicar os dias dos meses lunares, de fundamental importância para a determinação do calendário religioso dos muçulmanos. Contribuiu ainda para as famosas Tabelas Toledanas, uma compilação apuradíssima de dados astronômicos.

Um outro sábio importante foi al-Bitruji, que desenvolveu uma nova teoria do movimento estelar, baseado no pensamento de Aristóteles, exposto no Livro da Forma, um trabalho de grande circulação mais tarde no ocidente. Os nomes de muitas estrelas ainda são aqueles dados pelos astrônomos muçulmanos, como Altair (de al-tair, "aviador"), Betelgeuse (de bait al-jawza, "a casa dos gêmeos"), além de outros termos ainda em uso, como zenith, nadir e azimut.

Cientistas da Espanha islâmica também contribuiram para a medicina, a ciência islâmica por excelência, e embora os maiores clínicos muçulmanos estivessem em Bagdá, os de Al-Andalus não ficaram atrás. Ibn al-Nafs, por exemplo, descobriu a circulação sanguínea do pulmão. Abu-al-Qasim al-Zahrwi, o mais famoso cirugião da Idade Média, foi autor do Tasrif, um livro que, traduzido para o latim, tornou-se texto médico obrigatório nas universidades européias. Na parte dedicada à cirurgia, são encontradas ilustrações de instrumentos cirúrgicos extremamente práticos e de grande precisão. Ibn Zuhr, conhecido como Avenzoar, um clínico habilidoso, foi o primeiro a descrever abcessos pericardiais e a recomendar a traqueostomia quando necessário. O último dos grandes médicos andaluzes, Ibn al-Khatib, também famoso historiador, poeta e estadista, escreveu um livro importante sobre a teoria do contágio, onde ele diz: "A infecção fica clara para o investigador quando ele, não estando em contato, permanece a salvo", e descreveu como se dá a transmissão das doenças através de roupas, recipientes e brincos.

A Espanha islâmica também contribuiu para a ética médica e a higiene. Um dos mais eminentes teólogos e juristas, Ibn Hazm, insistia em que as qualidades morais eram obrigatórias para qualquer clínico. "Um médico", escreveu ele, "deve ser gentil, compreensivo, amigo e capaz de suportar insultos e a crítica adversa. Além disso, deve ter cabelos e unhas curtos, vestir roupas limpas e comportar-se com dignidade."

Os cientistas andaluzes também se interessaram por botânica. Ibn al-Baytar, por exemplo, botânico, escreveu um livro chamado "Drogas Simples e Alimento", um compêndio em ordem alfabética das plantas medicinais, muitas das quais eram nativas da Espanha e do norte da África. Em outro tratado, Ibn al-'Awwam listou cem espécies de plantas e deu instruções precisas a respeito de seu cultivo e uso. Ele escreveu, por exemplo, sobre como enxertar plantas, produzir híbridos, acabar com a ferrugem e outras pragas e como fazer perfumes.

A Andaluzia destacou-se também no estudo da geografia. Curiosa sobre o mundo e seus habitantes, a Espanha islâmica começou com os trabalhos de Bagdá e prosseguiu por conta própria, acrescentando outras contribuições, como a geografia básica da Andaluzia, de Ahmad ibn Muhammad al-Razi, e uma descrição da topografia do norte da África, de Muhammad ibn Yusuf al-Warraq. Um outro geógrafo foi al-Bakri, um ministro importante da corte de Sevilha, lingüista ilustre e literato. Um de seus dois mais importantes trabalhos sobre geografia é voltado para a península arábica.

Ainda no campo da geografia, o mais respeitado foi Ibn Battuta. Nascido no norte da África, então dentro da esfera cultural da Espanha islâmica, viajou por 28 anos e escreveu um livro sobre suas viagens, e que foi uma rica fonte de consulta tanto para historiadores como para geógrafos. Incluía informações preciosas sobre povos, lugares, navegação, rotas de caravans, estradas e até hospedagens. Um outro geógrafo importante foi Al-Idrisi, que estudou em Córdoba. Depois de viajar muito, Al-Idrisi se estabeleceu na Sicília e escreveu uma geografia do mundo, que ficou conhecida como o Livro de Roger, por causa de seu padrinho Roger II, o rei normando da Sicília. As informações contidas no Livro de Roger também foram gravadas num planisfério de prata, um mapa em forma de disco, considerado uma das maravilhas da época.


O planisfério de Al-Idrisi.
considerado o primeiro mapa científico do mundo


Inúmeros sábios em Al-Andalus também se devotaram ao estudo da história e das ciências lingüisticas. O espírito mais original do período, no entanto, foi Ibn Khaldun, o primeiro historiador a desenvolver e a explicar as leis gerais que regem a ascensão e declínio das civilizações. Em seus Prolegômenos, uma introdução à enorme história universal de sete volumes, ele abordou a história como uma ciência e desafiou a lógica de muitos relatos históricos até então aceitos. Num certo sentido ele foi o primeiro filósofo moderno de história.


Ibn Khaldun


Uma outra área de intensa atividade intelectual foi a filosofia, onde houve uma tentativa de conciliar os problemas intelectuais surgidos com a introdução da filosofia grega no contexto islâmico. Um dos primeiros a lidar com a questão foi Ibn Hazm, além de Ibn Bajjah, que era médico, e Ibn Tufayl, o autor de Hayy ibn Yaqzan, a estória de um menino que cresceu em completa solidão numa ilha deserta e que, por seus próprios esforços, descobriu as mais elevadas realidades físicas e metafísicas. Mas, foi Ibn Rushd, conhecido como Averróes no ocidente, quem alcançou a mais notável reputação. Ele nasceu em Córdoba e foi qadi nas cortes de Sevilha e de Córdoba. Era um aristotélico apaixonado e sua obra traduzida para o latim teve um impacto importante sobre o desenvolvimento da filosofia ocidental. Durante 500 anos seus livros foram adotados nas universidades do ocidente e do oriente. Por sua importância, principalmente para o ocidente, Averróes exigiria um capítulo à parte.

Averróes


Além das realizações nos campos da matemática, economia, medicina, botânica, geografia, história e filosofia, Al-Andalus também desenvolveu e aplicou importantes inovações tecnológicas: o moinho de vento e as novas técnicas para o trabalho em metal, tecelagem e construção, a cartografia e a confecção de instrumentos de navegação que possiblitariam as grandes navegações por espanhóis e portugueses, no final do século XV e início do século XVI.

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A Espanha Islâmica

Por Mônica Muniz

A islamização e arabização da região de Al-Andalus (denominação árabe da Espanha muçulmana) foram processos longos e complicados. As primeiras incursões militares árabes à região, entre 642 e 669, partiram do Egito e ocorreram mais por iniciativas locais do que propriamente por uma estratégia do califado central. No entanto, quando a sede do califado transferiu-se de Medina para Damasco, os omíadas reconheceram a importância de dominar o Mediterrâneo, o que exigia um esforço militar conjunto sobre o norte da África. Em 670, um exército árabe, chefiado por Uqba ibn Nafi, fundou a cidade de Al-Cairouan, cerca de 160 km ao sul do que hoje é a cidade de Túnis, que passou a servir de base para operações militares mais distantes.

No ano de 711, Tarik ibn Ziyad, um general liberto e governador da faixa ocidental do Magrebe (atual norte do Marrocos), venceu o visigodo Rodrigo, rei de Espanha. Chefiando um exército de 7.000 homens, e contando com o auxílio de convertidos bérberes, ele atravessou o Estreito e desembarcou junto a um enorme rochedo, que tomou o nome de Jabal-i-Tariq (Monte de Tariq), mais tarde ocidentalizado para Gibraltar. Em 712, uma nova leva de árabes chegou à região, quando grande parte da Espanha central, Portugal e partes da Itália já tinham sido ocupadas. Seguiram-se as conquistas de Medina, Sidônia, Sevilha e Mérida. Os árabes estabeleceram uma nova capital em Córdoba, às margens do rio Guadalquivir, o que garantia água suficiente para a produção agrícola, que se desenvolveu graças às novas técnicas introduzidas por eles.


Marco erigido em comemoração a Tariq


O geógrafo árabe Ibn Haukal Annassibi, ao visitar a Andaluzia, referiu-se à região nos seguintes termos: "Andalus é uma ilha extensa, medindo um pouco menos de um mês de marcha, de comprimento, e vinte e tantos dias de largura. É rica em rios e mananciais, é repleta de árvores e plantas de todo feitio e é suprida com tudo que acrescente conforto à vida; os escravos são gentis e podem ser encontrados por um preço acessível por conta de sua grande quantidade; a comida é excessivamente farta e barata, devido também à fertilidade da terra, que rende toda a espécie de grãos, vegetais e frutas, assim como à quantidade e qualidade de suas pastagens, nas quais inúmeros rebanhos pastam..." .

Prosseguindo em direção norte, os muçulmanos chegaram até a cidade de Tours, na França central, onde foram derrotados pelos francos em 732. A expansão muçulmana tinha alcançado seu ponto máximo no ocidente e as conquistas praticamente cessaram a partir daí.

A expansão do Islam entre os bérberes não garantiu o apoio deles para o califado. As constantes mudanças promovidas pelo califado central traziam insegurança e instabilidade. Além disso, havia diversas tribos que tinham os seus próprios interesses e faziam alianças locais e regionais. A Andaluzia era uma mistura de etnias e culturas, onde conviviam árabes, que formavam a aristocracia, bérberes, que eram considerados uma classe inferior, mossárabes, habitantes da península que mantiveram o credo cristão, os mualadíes, filhos de mães escravas habitantes da península e que se converteram ao Islam, judeus e escravos. Mossárabes e mualadíes reivindicavam igualdade de condições e direitos com os árabes. Árabes e bérberes não se entendiam e já não estavam mais unidos como antes. Os árabes oneraram os bérberes com pesados impostos e tratavam os convertidos como muçulmanos de segunda classe. Em decorrência, em 739-740, a insatisfação generalizada transformou-se em revolta aberta sob a bandeira do Islam carijita. Os carijitas, que tinham discordado de 'Ali, o quarto califa, e que tinham lutado contra o governo omíada do Oriente, conseguiram a adesão dos bérberes, que se sentiram atraídos pelos preceitos igualitários da seita. Por exemplo, contra a sucessão hereditária implantada pelos omíadas, os carijitas defendiam que qualquer muçulmano idôneo podia ser eleito califa, independentemente de raça, posição ou de possíveis laços familiares com o Profeta Mohammad. Após a revolta, os carijitas estabeleceram uma série de pequenos reinos tribais teocráticos, muitos dos quais tiveram histórias breves e problemáticas.

OS OMÍADAS NA ANDALUZIA

O fim da dinastia omíada e a chegada ao poder da dinastia abássida, em 750, deu início a um dos mais importantes capítulos da história islâmica. Lá, em Al-Andalus, foi construída uma civilização em muito superior a qualquer outra até então conhecida.

Durante a revolução abássida em Damasco, Abdul Rahman, neto de um ex-califa omíada, conseguiu escapar para a Espanha, e, auxiliado pelos árabes fiéis aos omíadas, tomou Córdoba e assumiu o título de emir (príncipe), declarando-se independente do califado central, muito embora reconhecesse a soberania religiosa do califa. Em Córdoba, estabeleceu seu próprio califado em nome dos omíadas e a dinastia manteve o controle da Espanha por 300 anos, até que os bérberes almorávidas, vindos do norte da África, tomassem o poder no século XI. Abdul Rahman foi o responsável pela construção de canais e pelo desenvolvimento de um sistema de irrigação que tornou a terra mais fértil e produtiva. Fundou universidades em Córdoba, Sevilha e Toledo, que nos séculos seguintes foram centros de referência para muçulmanos e não muçulmanos de toda a Europa. Iniciou também a construção da grande Mesquita de Córdoba, uma das maravilhas da arte mourisca.


A Grande Mesquita de Córdoba


Foi com Abdul Rahman III que se deu a ruptura definitiva com o califado central. Ele se declarou califa, tornando-se independente da autoridade religiosa do Oriente. Esta foi a primeira instância regional de separação do califado abássida. Não obstante as inúmeras tentativas para retomar o controle da Espanha, os abássidas jamais conseguiram restabelecer a unidade com o califado central. A Espanha permaneceu sob o governo de dinastias locais até a completa rendição aos reis católicos, no final do século XV.

A proclamação do califado teve um duplo objetivo. Internamente, os omíadas fortaleceram o reino peninsular, e externamente consolidaram as rotas comerciais do Mediterrâneo, garantiram uma relação com Bizâncio oriental e asseguraram o suprimento de ouro. Em meados do século X, eles controlavam o triângulo formado pela Argélia, Sijilmasa e Atlântico. A hegemonia política de Al-Andalus também se estendeu até a Europa ocidental e o império germano-romano estabeleceu relações diplomáticas com o califado de Córdoba. Os pequenos fortes cristãos do norte da península acabaram reconhecendo e aceitando a superioridade do califado.

As bases do poder andaluz estavam assentadas na extraordinária capacidade econômica proveniente de um comércio importante, uma indústria desenvolvida e um conhecimento agrícola revolucionário para a época. A economia baseava-se na moeda e a emissão de dinheiro desempenhou um papel fundamental para o esplendor financeiro. A moeda de ouro de Córdoba tornou-se a moeda principal do período. O califado de Córdoba foi a primeira economia urbana e comercial que floresceu na Europa, depois do desaparecimento do império romano.


Califado de Córdoba


No século XI começaram a surgir os primeiros focos de resistência cristã e o exército cristão, liderado por Alfonso VI, retomou Toledo. Iniciava-se a Reconquista Espanhola, que evidenciou a causa maior que iria determinar o fim desse período refinado e de grande esplendor: a inabilidade dos inúmeros governantes da Espanha islâmica em manter uma unidade política. Quando os reis cristãos começaram a representar uma ameaça real para os domínios islâmicos, os governantes muçulmanos pediram auxílio aos almorávidas, uma dinastia bérbere do norte da África. Os almorávidas atenderam ao chamado e acabaram com a revolta cristã, mas, em contrapartida, tomaram o poder para eles.

OS ALMORÁVIDAS NA ANDALUZIA

A realidade de um poder enfraquecido, às voltas com constantes insurreições, facilitou o surgimento de uma série de pequenos reinos. Esses estados variavam em extensão, recursos e poder. Por todo o século XI, cada um deles tentava, à sua maneira, manter independência em relação aos estados rivais. Os mais poderosos eram os de Toledo, Sevilha, Badajós e Granada.


Pequenos reinos de "taifas"


Em 1036, um líder de uma das tribos bérberes que controlavam o Sahara ocidental, fez a peregrinação a Meca. Impressionado com o desconhecimento de seu povo sobre a doutrina islâmica, mandou vir um teólogo, de nome Abdallah ibn Yasin, para ensinar o Islam aos bérberes.

Abdallah ibn Yasin encontrou um povo na maior parte analfabeto e com total desconhecimento da tradição e ensinamentos islâmicos. Os bérberes, de início, resistiram aos ensinos de Ibn Yasin, mas, com o tempo, aderiram ao Islam ortodoxo. Os seguidores bérberes de Ibn Yasin ficaram conhecidos como al-Murabitun, "o povo dos monastérios" e na historiografia ocidental como os almorávidas. Eles acreditavam firmemente nos ensinamentos islâmicos de Ibn Yasin sobre o jihad contra não muçulmanos. A meta inicial dos almorávidas era a de estabelecer uma comunidade política, na qual os princípios islâmicos pudessem ser aplicados.

Em 1055, eles capturaram os dois mais importantes centros do comércio de ouro trans-sahariano, Sijilmasa e Awdaghust. Fundaram a cidade de Marrakesh, que passou a ser a capital do reino almorávida. A morte de Ibn Yasin não os fez parar. Um seguidor de nome Abu Bakr, tomou para si o manto da liderança e, até sua morte, dedicou-se à conquista contínua da região noroeste da África.

O IMPÉRIO ALMORÁVIDA NO MAGREBE (1055 -- 1157)


- A marcha dos Almorávidas - Fonteira leste do território almorávida



Em 1083, os almorávidas controlavam a região que ia do Marrocos até a Argélia. Tendo Marrakesh como sua capital, eles exerciam uma forte influência religiosa e detinham o controle do comércio de ouro da região. Em 1087, um primo de Abu Bakr, Yusuf ibn Tashfin, tornou-se o líder do ramo norte dos almorávidas e conquistou Ceuta, ao longo do Estreito de Gilbratar.

Na península ibérica, Alfonso VI retomava a cidade muçulmana de Toledo. O governante muçulmano de Sevilha, sentindo-se ameaçado, pediu aos almorávidas ajuda e o exército de Ibn Tashfin cruzou o Estreito, derrotou Alfonso VI e retornou ao Marrocos. As vitórias na Espanha estimularam Ibn Tashfim a cruzar o Estreito de novo. Mas, dessa vez, ele e seu exército submeteram os aliados muçulmanos. Os almorávidas anexaram toda a Espanha muçulmana, estendendo seu vasto império desde o rio Senegal até o rio Ebro, e a Andaluzia se transformou numa simples província do Marrocos. No entanto, essa unificação política não durou muito. Dificuldades econômicas, inquietação social e os pogroms contra as comunidades judaica e cristã, acabaram por gerar uma série de revoltas.

Por fim, o enorme tamanho do império almorávida, a devoção religiosa e a unidade que formavam as bases desse império, determinaram sua queda. Uma administração fraca acabou gerando abusos de toda espécie. Os bérberes do norte da África se uniram e declararam o jihad contra os almorávidas, a quem acusavam de corrupção e opressão. Esses novos guerreiros, os almoadas, xiítas bérberes, sitiaram Marrakesh e rapidamente passaram a controlar toda a Espanha muçulmana, terminando com o domínio almorávida.

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A Expansão Islâmica

Por Mônica Muniz

Após a morte do Profeta, seguiu-se um momento de confusão na recém formada comunidade islâmica. Eram muitos os problemas. A forma de sucessão não tinha sido definida claramente, o império expandia-se rapidamente, novos territórios iam sendo incorporados e algumas alianças que o Profeta havia estabelecido com as diversas tribos estavam ameaçadas. Algumas dessas tribos não rejeitavam o aspecto profético de sua mensagem, mas questionavam o poder político de Medina.

O processo de expansão das fronteiras era rápido e tornava-se necessário encontrar uma forma eficiente de governar uma tão grande extensão de terras. No início, a autoridade era exercida a partir de bases fortificadas construídas em pontos estratégicos. Na Síria já existiam algumas cidades, mas novos acampamentos foram criados em Basra e Kufa, no Iraque, em Fustat, no Egito, e outros na fronteira nordeste do Corassã, na Ásia. Esses campos eram centros de poder e atraíam imigrantes da própria Arábia e das terras conquistadas, e com o tempo, transformaram-se em cidades importantes. Esses assentamentos ligavam-se ao califado em Medina por intermédio de estradas internas. A comunidade estava composta por grupos heterogêneos. Faziam parte desses grupos antigos companheiros do Profeta, havia também um grande contingente da aristocracia de Meca e de famílias tradicionais da cidade de Taâ?Tif, próxima a Meca. Por outro lado, à medida que as conquistas prosseguiam, a comunidade ia incorporando outras tribos, que se mesclavam umas com as outras.

Apesar da coesão entre as diversas tribos e entre os novos convertidos, a comunidade estava dividida por diferenças pessoais. Os companheiros do Profeta olhavam com desconfiança para os recém convertidos, antes ferrenhos opositores e que agora tinham ascendido ao poder. As elites de Meca e Medina viam o centro do poder sendo deslocado para as terras mais populosas e mais ricas da Síria e Iraque, onde os governadores lutavam por mais autonomia e independência e havia também os descontentes com os rumos que a direção do califado estava tomando. Entre estes, estavam os carijitas (khawarij, aqueles que se retiram), um grupo de radicais puritanos que tinham retirado seu apoio a â?~Ali e questionavam o direito hereditário de governar o califado. Estes, por sua vez, confrontavam-se com os xiítas, que defendiam que o califado deveria ser governado por membros da família do profeta. Os carijitas chegaram a formar um exército próprio e a eleger um califa, mas foram derrotados por â?~Ali.

Foi no califado de â?~Ali, que se deu a grande ruptura da comunidade islâmica. A eleição de â?~Ali, um hashemita, como Califa, encontrou forte oposição por parte de Muawiya, um omíada, que era governador da Síria, e que se recusou a aceitar a autoridade de â?~Ali.

Seguiu-se, um período de guerra civil. A situação em Hijaz (a parte da Arábia onde estão situadas Meca e Medina) tornou-se tão problemática que 'Ali, por questão de estratégia, mudou a capital para Kufa, enquanto os dissidentes foram para Basra, no Iraque. A mudança da capital provocou mais descontentamentos em Medina.

Tendo vencido seus oponentes, â?~Ali passou a enfrentar um desafio maior, na pessoa de Muawiya, agora abertamente contra ele. Os dois se enfrentaram em Siffin, no nordeste da Síria, numa batalha sem vencedores. A questão foi resolvida num processo de arbitrtragem que trouxe consequências para a autoridade de 'Ali, que teve que aceitar o governo "de fato" de Muawiya na Síria.

Muawiya era um homem poderoso, governava a Síria, tinha o seu próprio exército e era o chefe da Casa Omíada. Com o passar do tempo, ele foi cada vez mais liderando os sentimentos de insatisfação que dominavam Medina. A autoridade de â?~Ali foi enfraquecendo e ele acabou assassinado em 661, numa conspiração armada pelos carijitas. â?~Ali foi o último dos califas a representar o verdadeiro conceito islâmico de governante, ou seja, aquele que combina as funções de chefe de estado com as de líder espiritual.

Muawiya proclamou-se califa, inaugurando a dinastia omíada, com capital em Damasco, que governou o mundo muçulmano por 90 anos, de 661 até 750. Ainda que não possuísse as qualidades de um chefe religioso, ele foi um administrador eficiente e mesmo seus críticos são unânimes em afirmar que ele foi um grande estadista. Durante seu governo a Ifriquia (Tunísia, Marrocos e Argélia) foi conquistada e foi fundada a cidade de Cairuan, na Tunísia. Seguindo em direção à Ásia, os muçulmanos completaram a conquista de Corassã e chegaram ao território que hoje corresponde ao Afeganistão, ocupando Cabul. Muawiya construiu uma linha de fortalezas ao longo da fronteira, o que ajudava a manter os bizantinos afastados. Herdeiro dos estaleiros bizantinos da Síria, ele criou a primeira marinha do califado, e com ela chegou a atacar Constantinopla.

Apesar de todas as suas realizações, Muawiah jamais foi capaz de conciliar a oposição ao seu governo, nem de solucionar o conflito maior com os xiítas. Essas questões não se resolveram enquanto ele viveu, e, depois de sua morte, em 680 d.C, os partidários de 'Ali, espalharam-se pelo norte da África e Espanha, criando governos autônomos e independentes do Califado central.

Quando morreu, Muawiya foi substituído por seu filho, Yazid, iniciando-se, assim a sucessão hereditária. A indicação de Yazid encontrou forte oposição por parte de Husein, filho mais novo de â?~Ali e neto do Profeta. Husein liderou uma revolta contra Yazid, que culminou com a morte de Husein e de seu grupo, no evento que ficou conhecido como a Tragédia de Kerbala. A consequência imediata foi o ressurgimento da resistência xiíta que determinaria a queda da dinastia omíada em 750 e o surgimento da dinastia abássida.

A história islâmica não fez muita justiça aos omíadas, talvez em razão das disputas de Muawiya contra â?~Ali e por causa da trágica morte do neto do Profeta.
Além do mais, muito dos relatos referentes a esse período foram escritos no período abássida, por cronistas que não conseguiram vencer suas diferenças ao relatar os acontecimentos.

Mas o fato é que a dinastia omíada em Damasco promoveu importantes realizações e imprimiu ao califado, pela primeira vez, uma feição político-administrativa centralizada. Com os omíadas, começa o que se convencioou chamar a Idade de Ouro do Islam. Foi nesse período que o império atingiu o auge de sua expansão territorial. O país prosperou econômica e intelectualmente. O comércio exterior expandiu-se e intelectuais judeus e cristãos, muitos deles de origem grega, encontraram espaço no califado, onde estudaram e praticaram medicina, alquimia e filosofia.


Expansão islâmica durante o Califado de Damasco



Com Abd al Malik (685-705), o quinto califa, os omíadas conquistaram o Sind e fundaram o primeiro estado muçulmano na Índia. É a partir de Abd al Malik que a administração do império passa a ser centralizada, é criada uma estrutura burocrática, o árabe é introduzido como a língua oficial do califado e a moeda é unificada. Merece destaque o fato de os omíadas terem introduzido um novo estilo de cunhagem. No lugar de moedas mostrando figuras humanas, as novas traziam cunhadas inscrições em árabe que proclamavam a unicidade de Deus e a verdade da religião revelada a Mohammad. O serviço postal foi organizado e foi criado um sistema de arrecadação de impostos. A historiografia, a ciência canônica, a gramática e a arquitetura árabes surgiram com os omíadas.


Dinar de 692/694, com inscrições em árabe


Os omíadas também foram responsáveis pela construção de prédios monumentais. É desse período a construção da Mesquita de Al-Aqsa, a primeira obra-prima da arte muçulmana, cujo objetivo foi o de expressar a fé revelada no Alcorão. A mesquita compreende duas estruturas: a Grande Mesquita de Omar e a Cúpula do Rochedo, no Templo do Monte, em Jerusalém. Mais ao sul do monte, os omíadas construíram um complexo de palácios e prédios públicos que se estendia por uma ampla área.

A Cúpula do Rochedo foi construída por Abd al-Malik, em 691, sobre as ruínas de um templo romano. Localizada no sítio mais sagrado do mundo antigo, a mesquita é carregada de simbolismo político e religioso. Do ponto de vista político, significou a implantação do domínio islâmico, a superioridade do Islam sobre judeus e cristãos, o "povo do livro", e simbolizou o fim de uma tradição que deveria ser absorvida pelos novos valores islãmicos.


A Cúpula do Rochedo, em Jerusalém, séc. VII


Do ponto de vista religioso, o local é sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. A construção é composta de pilares que circundam uma enorme rocha localizada no centro. Na tradição judaica, a pedra representa a fundação simbólica a partir da qual o mundo foi criado. Ali foram construídos seus dois grandes templos da era bíblica., sendo que o Muro das Lamentações é tudo o que restou depois da destruição pelos romanos, em 70 d.C. Para os cristãos, trata-se do lugar onde Jesus teve sua entrada proibida pelos líderes religiosos judeus. Para os muçulmanos, é o lugar para onde, segundo o Alcorão, Mohammad foi transportado em sua mística viagem noturna (Israâ?T). "Glorificado seja Aquele (Deus) que, durante a noite transportou seu servo (Mohammad), tirando-o da Sagrada Mesquita (Meca) e levando-o à Al-Aqsa (Jerusalém)" -- Alcorão 17:1. Daí ser considerado o terceiro lugar mais sagrado do mundo muçulmano, depois de Meca e Medina. Além do mais, representa a inserção do Islam na linhagem de Abraão, por intermédio de Mohammad. As inscrições em árabe proclamam a unicidade de Deus e declaram que Deus e Seus anjos abençoam o Profeta.

Para o filósofo e pensador francês, Roger Garaudy, a "Cúpula do Rochedo representa o primeiro exemplo extraordinário da visão islâmica de mundo. O lugar onde ela foi construída, a estrutura do prédio, suas dimensões e proporções, as cores que a iluminam, seus contornos externos e a harmonia do interior, tudo é representativo da fé que inspirou sua construção."


Pilares que circundam a rocha no interior da Cúpula do Rochedo



Abd al-Malik foi também o responsável pela construção da Mesquita de Damasco, que se caracteriza por suas paredes altas e a beleza de seus três minaretes e cúpula. A construção introduz a mais típica arquitetura islâmica que representou o estilo árabe de mesquita: um grande pátio aberto, limitado por arcadas em três lados e uma sala de orações coberta ao lado da qibla, que mostra a localização de Meca. Nos panéis de mosaicos foram utilizados vidro colorido e dourado. Ela foi construída em cima das ruínas do que foi local de adoração, primeiro dos sírios pré-islãmicos, depois um templo pagão romano e mais tarde uma igreja cristã dedicada a João Batista. Quando Abd al-Malik decidiu construir uma mesquita que expressasse toda a grandeza do califado, ele negociou com a comunidade cristã de Damasco e mandou construir uma outra igreja para que eles abrissem mão daquele espaço. Esta mesquita representa a síntese dos diversos elementos culturais romanos, helênicos e asiáticos, que deu origem às novas formas de expressão que viriam caracterizar toda a arte islâmica. São os mesmos elementos encontrados nas mesquitas de Alepo, na Síria, Medina, na Arábia, Cairuan, no Magrebe, e em Córdoba, a capital islâmica da Espanha.


Mesquita de Damasco, séc. VIII



Também característico desse período, são os "castelos do deserto", um produto do processo de assimilação com os povos das províncias conquistadas. Contrariamente ao que se diz, tais palácios não eram destinados ao refúgio dos nobres omíadas com a nostalgia do deserto, mas serviram de importantes centros de desenvolvimento econômico em regiões, à época, altamente prósperas e férteis.

A oposição aos omíadas, na verdade, significou a divisão do Islam entre sunitas, os seguidores das sunas do profeta, e xiítas, partidários de â?~Ali. Os muçulmanos xiitas faziam uma distinção entre autoridade religiosa e autoridade política. O imam deveria ser o líder da comunidade, a quem cabia interpretar a lei moral islâmica e tinha que ser um descendente direto do Profeta. Os sunitas, por sua vez, achavam que o consenso da comunidade, ou dos sábios religiosos, é que deveria guiar a comunidade muçulmana.

Com o advento dos omíadas, contudo, as preocupações e problemas inerentes à administração de um grande império começaram a prevalecer entre os califas, muitas vezes até às custas das preocupações religiosas, o que incomodou a muitos muçulmanos devotos. Era uma nova civilização que estava nascendo, era uma sociedade em formação e os árabes, que não conheciam uma forma hierarquizada de poder, agora eram a própria classe governante. Governar um império em expansão implicava em compromissos com a lei e o modo de vida islâmicos, mas o rápido crescimento do Islam e o contato com a cultura clássica das províncias romanas conquistadas pelos árabes pareciam diluir esses compromissos. A questão principal era se o mundo árabe seria dominado pelo Islam ou pelas políticas e leis mais antigas dos bizantinos e sassânidas.

Por volta de 740, o poder omíada rapidamente se deteriorou frente a uma nova guerra civil e a uma coalizão de forças que representavam objetivos diferentes mas unificada na oposição aos omíadas. Esses movimentos foram mais intensos na parte oriental do império, particularmente no Corassã entre grupos de colonos árabes e iranianos. Havia também um sentimento xiíta que, embora não fosse organizado, estava amplamente disseminado. Em 750, descendentes de Abbas, tio do Profeta, alegando direito de sucessão, criaram uma organização composta de dissidentes e formaram um exército que, partindo do Corassã, derrotou o último califa omíada, Marwan II. O líder do movimento, Abul â?~Abbas, foi proclamado o novo califa. Surgia, assim, a dinastia abássida que iria governar o mundo islâmico pelos cinco séculos seguintes. ______________________________________
CAP.1-FEUDALISMO-HISTÓRIA
PROF.BRÁULIO SANTOS
TURMA: SÉTIMO ANO/SESI
Feudo
Saiba o que é, definição da palavra e links relacionados 

Pintura de um feudo medieval 
Definição
Na Europa, durante a Idade Média (século V ao XV) o feudo era um terreno ou propriedade (bem material) que o senhor feudal (nobre) concedia a outro nobre (vassalo). Em retribuição, o vassalo deveria prestar serviços ao senhor feudal, pagar impostos e oferecer lealdade e segurança.
Um feudo medieval (território), geralmente, era constituído pelas seguintes instalações: castelo fortificado (residência do nobre e sua família), vila camponesa (residência dos servos), área de plantio, igreja ou capela, moinho, estábulo, celeiro, etc.
Como neste período a propriedade da terra era sinônimo de poder econômico, político e social, eram comuns as guerras e batalhas pela disputa de feudos.

Feudalismo na Idade Média
Sociedade Medieval, Economia, Influência da Igreja, Idade Média, organização do feudo,
 suseranos e vassalos, senhor feudal, cavaleiros, servos, sistema feudal.

Servos trabalhando num feudo medieval

Introdução 
O feudalismo tem inicio com as invasões germânicas (bárbaras ), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente (Europa). As características gerais do feudalismo são: poder descentralizado (nas mãos dos senhores feudais), economia baseada na agricultura e utilização do trabalho dos servos. 
Estrutura Política do Feudalismo 
Prevaleceram na Idade Média as relações de vassalagem e suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda ao seu suserano. O vassalo oferece ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso.
Todos os poderes, jurídico, econômico e político concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos).

Sociedade feudal 
A sociedade feudal era estática (com pouca mobilidade social) e hierarquizada. A nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadava impostos dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um grande poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era isento de impostos e arrecadava o dízimo. A terceira camada da sociedade era formada pelos servos (camponeses) e pequenos artesãos. Os servos deviam pagar várias taxas e tributos aos senhores feudais, tais como: corvéia (trabalho de 3 a 4 dias nas terras do senhor feudal), talha (metade da produção), banalidade (taxas pagas pela utilização do moinho e forno do senhor feudal).

Economia feudal
A economia feudal baseava-se principalmente na agricultura. Existiam moedas na Idade Média, porém eram pouco utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias eram comuns na economia feudal. O feudo era a base econômica deste período, pois quem tinha a terra possuía mais poder. O artesanato também era praticado na Idade Média. A produção era baixa, pois as técnicas de trabalho agrícola eram extremamente rudimentares. O arado puxado por bois era muito utilizado na agricultura.
Religião 
Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e copiando livros e a Bíblia.

Castelo da época do feudalismo
As Guerras 
A guerra no tempo do feudalismo era uma das principais formas de obter poder. Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e poder. Os cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. O residência dos nobres eram castelos fortificados, projetados para serem residências e, ao mesmo tempo, sistema de proteção.
Educação, artes e cultura
A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam. Marcada pela influência da Igreja, ensinava-se o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros.
A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião.
Podemos dizer que, em geral, a cultura e a arte medieval foram fortemente influenciadas pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais.  

Divisão do Feudo

Manso senhorial, manso servil e terras comunais, direitos de uso, feudalismo, História da Idade Média

Servos trabalhando nas terras do feudo durante o feudalismo
Divisão do feudo 
Durante o feudalismo na Europa (Idade Média), o feudo era a principal unidade de produção. As terras do feudo eram de propriedade do senhor feudal, porém possuíam uma divisão bem determinada.
Domínio (Manso Senhorial)
As terras do manso senhorial eram de utilização exclusiva do senhor feudal. Porém, os servos eram convocados para trabalharem de 2 a 3 dias por semana nesta terra, sendo que toda produção era destinada ao senhor feudal.
Manso servil
Eram as terras destinadas ao uso dos servos (camponeses do feudo). Os servos não eram proprietários destas terras, mas apenas usavam e delas deveriam tirar o sustento da família e ta
mbém pagar as taxas e impostos ao senhor feudal. A condição de servo passava de pai para filho, assim como o direito de usar estas terras.
Terras comunais
Área do feudo de uso coletivo. Eram os bosques, florestas e pastos. Porém, dependendo do feudo existiam regras para sua utilização. Em muitos locais da Europa, era comum a proibição da caça realizada por servos em terras comunais. Os servos podiam levar seus animais para pastarem nestas terras, assim como pegar


Talha, Corvéia e Banalidades

As principais obrigações dos servos na época do feudalismo

Servos (camponeses) trabalhando no feudo: muitas obrigações devidas aos senhores feudais


Introdução
Na época do feudalismo, durante a Idade Média, os servos (camponeses) habitavam as terras dos senhores feudais. Em troca, eram obrigados a pagar taxas em forma de trabalho e mercadorias. Quase tudo que produziam acabava indo para as mãos dos senhores feudais. Para os servos, sobrava apenas o pouco para a sobrevivência da família.
Talha 
Era uma obrigação pela qual o servo deveria passar, para o senhor feudal, metade de tudo que produzia nas terras que ocupava no feudo. Se colhesse 20 quilos de batata, 10 quilos deveriam ser separados para o pagamento da talha. 
Corvéia
Esta obrigação correspondia ao pagamento através de serviços prestados nas terras ou instalações do senhor feudal. De 3 a 4 dias por semana, o servo era obrigado a cumprir diversos trabalhos como, por exemplo, fazer a manutenção do castelo, construir um muro, limpar o fosso do castelo, limpar o moinho, etc. Podia também realizar trabalhos de plantio e colheita no manso senhorial (parte das terras do feudo de uso exclusivo do senhor feudal).
Banalidades
Esta obrigação correspondia ao pagamento pela utilização das instalações do castelo. Se o servo precisasse usar o moinho ou o forno, deveria pagar uma taxa em mercadoria para o senhor feudal.


 
Castelos Medievais 

Características dos castelos, arquitetura medieval, guerras, sistemas de proteção,
materiais usados, estrutura, locais de construção

Castelos Medievais: residências fortificadas da Idade Média
Introdução 
Durante a Idade Média (séculos V ao XV) a Europa foi palco da construção de milhares de castelos. Nesta época da história, as guerras eram muito comuns. Logo, os senhores feudais, reis e outros nobres preocupavam-se com a proteção de sua residência, bens e familiares.
Primeiros castelos de madeira
Durante os primeiros séculos da Idade Média (até o século XI, aproximadamente), os castelos eram erguidos de madeira retirada das florestas da região. Seu interior era rústico e não possuía luxo e conforto.

Castelos de pedra 
A partir do século XI, a arquitetura de construção de castelos mudou completamente. Eles passaram a ser construído de blocos de pedra. Tornaram-se, portanto, muito mais resistentes. Estes castelos medievais eram erguidos em regiões altas, pois assim ficava mais fácil visualizar a chegada dos inimigos. Um castelo demorava, em média, de dois a sete anos para ser construído.
Arquitetura e funções
Em volta do castelo medieval, geralmente, era aberto um fosso preenchido com água. Esta estratégia era importante para dificultar a penetração dos inimigos durante uma batalha. Os castelos eram cercados por muralhas e possuíam torres, onde ficavam posicionados arqueiros e outros tipos de guerreiros. O calabouço era outra área importante, pois nele os reis e senhores feudais mantinham presos os bandidos, marginais ou inimigos capturados.

Como o castelo medieval era construído com a intenção principal de proteção durante uma guerra, outros elementos eram pensados e elaborados para estes momentos. Muitos possuíam passagens subterrâneas para que, num momento de invasão, seus moradores pudessem fugir.

O castelo era o refúgio dos habitantes do
feudo, inclusive os camponeses (servos). No momento da invasão inimiga, todos corriam para buscar abrigo dentro das muralhas do castelo. A ponte levadiça, feita de madeira maciça e ferro, era o único acesso ao castelo e, após todos entrarem, era erguida para impedir a penetração inimiga.

Por dentro, o castelo medieval era frio e rústico, ao contrário do luxo mostrado em muitos filmes sobre a Idade Média. Os cômodos eram enormes e em grande quantidade. O esgoto produzido no castelo era, geralmente, jogado no fosso.

Grande parte destes castelos medievais ainda existem na Europa, porém foram transformados em hotéis, museus ou pontos turísticos. Em cidades do interior da
França, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Inglaterra podemos encontrar vários exemplos destes interessantes tipos de construção antiga.

Senhores Feudais 

Castelo Medieval: moradia dos senhores feudais
Significado:

Os senhores feudais eram nobres que viveram na época da Idade Média (século V ao XV). Possuíam muito poder político, militar e econômico. Eram proprietários dos feudos (unidades territoriais) e possuíam muitos servos trabalhando para ele. Cobravam vários impostos e taxas destes servos, pela utilização das terras do feudo. Viviam em castelos fortificados e eram protegidos por cavaleiros. Os senhores feudais faziam e aplicavam as leis em seus domínios.
Frase Exemplo: 

Os senhores feudais costumavam entrar em guerras para ampliar seus domínios territoriais.
Explicação da frase:

A guerra era uma atividade comum na Idade Média. Os senhores feudais costumavam invadir militarmente os feudos de outros nobres para obterem riquezas e terras.

Cavaleiros Medievais

Quem eram, treinamento, importância, participação nas guerras medievais, cerimônia , qualidades

Cavaleiros Medievais: proteção e segurança na Idade Média 

Introdução 
Os cavaleiros medievais eram guerreiros que faziam parte da nobreza. Na Idade Média (séculos v ao XV), a guerra era muito comum e os senhores feudais e reis necessitavam de cavaleiros para fazer a proteção do feudo ou conquistar novas terras e riquezas. Quanto mais cavaleiros possuía um nobre, maior seria o seu poder militar.
Formação do cavaleiro 
Para se tornar cavaleiro era necessário fazer parte da nobreza, pois os equipamentos de guerra (espada, escudo, elmo, armadura) e o cavalo custavam caro. Os camponeses não tinham recursos para se tornarem cavaleiros, nem mesmo tempo para o treinamento.

Desde criança, o menino era destinado, pelo pai, para ser um cavaleiro e começava o treinamento. Devia saber usar as armas, aprender técnicas de combate, preparar o físico, montar o cavalo e valorizar as atitudes de um cavaleiro. Valentia, fidelidade e lealdade eram características exigidas num cavaleiro medieval.

Ao se tornar adulto, o aprendiz tornava-se cavaleiro através de uma cerimônia. Passava a noite numa
igreja, orando. No dia seguinte devia fazer juramento de lealdade ao seu suserano. Geralmente ganhavam um terreno (feudo) para construir sua habitação.

Torneios
Os cavaleiros medievais costumam participar de torneios. Estes eventos festivos contavam com lutas e disputas entre os cavaleiros de uma região. Era uma das diversões no período do feudalismo.

Participação nas Cruzadas 
Os cavaleiros medievais participaram das cruzadas, batalhas em que os cristãos tentaram retomar a Terra Santa (Jerusalém) das mãos dos muçulmanos. 
Crise do Feudalismo
As causas que levaram a crise do feudalismo na Europa, a decadência do sistema feudal

O contato comercial com o oriente contribuíu para a crise do feudalismo
Causas da crise do feudalismo 
A partir do século XII, ocorreram várias transformações na Europa que contribuíram para a crise do sistema feudal:
- O renascimento comercial impulsionado, principalmente, pelas Cruzadas;
- O aumento da circulação das moedas, principalmente nas cidades. Este fator desarticulou o sistema de trocas de mercadorias, característica principal do feudalismo;
- Desenvolvimento dos centros urbanos, provocando o êxodo rural (saída de pessoas da zona rural em direção às cidades). Muitos servos passaram a comprar sua liberdade ou fugir, atraídos por oportunidades de trabalho nos centros urbanos;
- As Cruzadas proporcionaram a volta do contato da Europa com o Oriente, quebrando o isolamento do sistema feudal;
- O surgimento da burguesia, nova classe social que dominava o comércio e que possuia alto poder econômico. Esta classe social foi, aos poucos, tirando o poder dos senhores feudais;
- Com o aumento dos impostos, proporcionados pelo desenvolvimento comercial, os reis passaram a contratar exércitos profissionais. Este fato desarticulou o sistema de vassalagem, típico do feudalismo;
- No final do século XV, o feudalismo encontrava-se desarticulado e enfraquecido. Os senhores feudais perderam poder econômico e político. Começava a surgir as bases de um novo sistema, o capitalismo.

As Cruzadas
História das Cruzadas Medievais, Guerra na Idade Média, conflitos medievais, renascimento comercial, rotas de comércio, economia medieval, história da economia européia

Cavaleiros na Idade Média partindo em direção a uma Cruzada
Introdução 
As cruzadas foram tropas ocidentais enviadas à Palestina para recuperarem a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém. A guerra pela Terra Santa, que durou do século XI ao XIV, foi iniciada logo após o domínio dos turcos seljúcidas sobre esta região considerada sagrada para os cristãos. Após domínio da região, os turcos passaram impedir ferozmente a peregrinação dos europeus, através da captura e do assassinato de muitos peregrinos que visitavam o local unicamente pela fé.
Organização 
Em 1095, Urbano II, em oposição a este impedimento, convocou um grande número de fiéis para lutarem pela causa. Muitos camponeses foram a combate pela promessa de que receberiam reconhecimento espiritual e recompensas da Igreja; contudo, esta primeira batalha fracassou e muitos perderam suas vidas em combate.   
Após a Primeira Cruzada foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários que tiveram importante participação militar nos combates das seguintes Cruzadas.
Após a derrota na 1ª Cruzada, outro exército ocidental, comandado pelos franceses, invadiu o oriente para lutar pela mesma causa. Seus soldados usavam, como emblema, o sinal da cruz costurado sobre seus uniformes de batalha. Sob liderança de Godofredo de Bulhão, estes guerreiros massacraram os turcos durante o combate e tomaram Jerusalém, permitindo novamente livre para acesso aos peregrinos. 
Outros confrontos deste tipo ocorreram, porém, somente a sexta edição (1228-1229) ocorreu de forma pacífica. As demais serviram somente para prejudicar o relacionamento religioso entre ocidente e oriente. A relação dos dois continentes ficava cada vez mais desgastada devido à violência e a ambição desenfreada que havia tomado conta dos cruzados, e, sobre isso, o clero católico nada podia fazer para controlar a situação. 
Embora não tenham sido bem sucedidas, a ponto de até crianças terem feito parte e morrido por este tipo de luta, estes combates atraíram grandes reis como Ricardo I, também chamado de Ricardo Coração de Leão, e Luís IX. Elas proporcionaram também o renascimento do comércio na Europa. Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, saqueavam cidades e montavam pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um importante reaquecimento da economia no Ocidente. Estes guerreiros inseriram também novos conhecimentos, originários do Oriente, na Europa, através da influente sabedoria dos sarracenos.


Burguesia 

Burgo: habitação da burguesia na Idade Média

Significado:

A burguesia é uma classe social que surgiu nos últimos séculos da Idade Média (por volta do século XII e XIII) com o renascimento comercial e urbano. Dedicava-se ao comércio de mercadorias (roupas, especiarias, jóias, etc) e prestação de serviços (atividades financeiras). Habitavam os burgos, que eram pequenas cidades protegidas por muros. Como eram pessoas ricas, que trabalhavam com dinheiro, não eram bem vistas pelos integrantes do clero católico.
Frase Exemplo: 

A burguesia participou do renascimento comercial e urbano.
Explicação da frase:

Durante grande parte da Idade Média (do século V ao XII) o comércio praticamente inexistiu. Com o final das Cruzadas e a abertura do Mar Mediterrâneo, o comércio começou a crescer novamente.
A burguesia contribuiu para este processo.


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